Homenagem que a Secom da Presidência prestou nesta terça-feira ao homem do campo é estapafúrdia. Foto: Reprodução
Necropolítica é a política da morte
A necropolítica no Brasil deu um tempinho da pandemia, que já matou mais de 540 mil brasileiros, e foi bulir logo com a agricultura.
A mensagem que a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência prestou nesta terça-feira ao homem do campo é estapafúrdia, sem vergonha e desqualificada.
Sem enxada ou trator, mas com um agricultor portando uma espingarda, o texto mequetrefe diz o seguinte:
“Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo”.
De duplo sentido, porque critica indiretamente o isolamento social, a mensagem até passaria.
Não dá é pra engolir a imagem (que vale por mil palavras) e acompanha o texto nas redes sociais, aquele recadinho bélico de uma administração defensora do armamento da população.
O retrato é de um trabalhador armado, mais ou menos como aqueles usados durante a revolução comunista na Rússia, em 1917.
Só que o nosso capiauzinho se assemelha mais a um caçador do que a um trabalhador.
Essa aberração não é a mensagem de uma administração, mas de um presidente que deseja ardorosamente armar a população e de um ministro das Comunicações que se comporta como uma biruta de aeroporto.
Há tempos, a Confederação da Agricultura do Brasil (CNI) debate seriamente a falta de segurança dos agricultores. Mas nunca ousou resumir o problema dessa maneira, vestindo homens do campo como milicianos regulares.
Não à toa, a postagem da Secom valeu, por parte de um deputado, o seguinte comentário: “O retrato de um governo miliciano”.
É claro que a postagem despertou reações, o que não é de todo ruim para um governo aprisionado pelo Centrão no Congresso, e que precisa desesperadamente manter sua base enfurecida bem mobilizada
Uma distração para os intestinos. De um governo que recepciona uma deputada neonazista investigada da Alemanha e adora promover o país junto às lixeiras do mundo.
Se o Centrão que agora se apodera do governo contribuir para mudar isso, que seja bem vindo, pelo menos por enquanto.