Conhecida por seu trabalho como empreendedora no show business, a paulistana e cidadã soteropolitana Flora Gil comandou durante muitos anos um dos camarotes mais disputados e desejados da folia baiana: o Expresso 2222, que ela chama de “Casa do Carnaval de Gil”. Depois de 25 anos à frente do espaço vip ela chegou à conclusão que era a hora de passar o bastão e atuar como uma espécie de curadora. O que já acontece a partir deste Carnaval quando Preta Gil será a anfitriã estando todos os dias no espaço para receber os convidados. Durante muito tempo, o Expresso 2222 e o Camarote de Daniela Mercury foram os mais badalados e disputados por artistas e celebridades que vinham conhecer o Carnaval de Salvador. Nesse quesito, Flora e Gilberto Gil conseguiram trazer nomes importantes para a folia a exemplo do grupo irlandês U2, comandado por Bono Vox; o grande produtor Quincy Jones, além de artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Margareth Menezes, Ivete Sangalo, Regina Casé, Vladimir Brichta e Adriana Esteves, a atual primeira-dama Janja, ex-governadores como Sérgio Cabral, Eduardo Campos, entre outros. Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Flora falou sobre esse momento de transição; da nova anfitriã, a cantora Preta Gil que enfrentou recentemente um sério problema de saúde, mas está com todo pique; o que a levou tomar a decisão de sair da frente do Camarote e da possibilidade ser apenas uma foliã: “Acho que não consigo mais”. Confira a entrevista:
CORREIO – Depois de muitos anos à frente da organização do Camarote Expresso 2222, você vai atuar como uma espécie de curadora saindo da linha de frente. Como você encara essa nova realidade?
FLORA GIL- Sempre chega a hora de passar o bastão. Depois de 25 anos à frente do Expresso, desde 1999, quando começamos esse movimento com um trio elétrico e depois um camarote, é hora de dar uma desacelerada. Eu brinco que a CEO virou a Fafá [Giordano]minha irmã e produtora do Expresso há tantos anos, a Preta vai levar a alegria contagiante de sempre, como uma anfitriã, e eu virei “chairman”. Meu combinado com a Fafá e com a equipe que formamos ao longo desses anos é de estar atenta e à disposição para aconselhar e supervisionar todo o trabalho.
CORREIO – O que a levou a tomar essa decisão de ficar na retaguarda já que o Expresso é totalmente identificado com você?
FLORA GIL-O Expresso 2222 é identificado não apenas comigo, mas com toda a família Gil. Desde o nome, que traz o título de uma canção e de um álbum emblemáticos no repertório de Gil, até a presença da família no palco, na festa, na produção. Preta Gil, por exemplo, será a anfitriã desde ano e estará todos os dias recebendo os convidados e os patrocinadores da festa, como Ifood , Elo, Coca Cola, Estrela Galicia, Natura, Tennys Pé Baruel, entre outros. Então eu estou ali, não à frente, mas com meu coração batendo duas mil duzentas e vinte e duas vezes pelo Expresso.
CORREIO – O Carnaval de 2024 será marcado por uma série de datas importantes como os 50 anos do Ilê Aiyê, os 45 anos do Olodum e do Malê Debalê, os 30 anos da Didá Banda Feminina e da carreira de Ivete Sangalo, os 40 anos de carreira de Daniela Mercury só para citar alguns. Como você analisa essas efemérides?
FLORA GIL- Esses longos ciclos da Bahia são resultado do talento desses numerosos artistas, que durante décadas têm construído essa festa única que é o Carnaval de Salvador. Os blocos afros, as cantoras, os cantores, os grupos musicais, a explosão de ritmos, o axé, samba, pagode, a forma acolhedora que todos são recebidos aqui, tudo isso faz com que a Bahia e o nosso Carnaval tenham esse jeito singular que nenhuma outra terra tem. É muito talento num só lugar, por isso que é muito legítimo aquele ditado que diz “baiano não nasce, estreia”.
CORREIO – Paulista de nascimento, agraciada como cidadã de Salvador, como é sua relação com a capital baiana. O que mais lhe emociona quando você está por aqui?
FLORA GIL- Sou uma paulistíssima de Moema, mas desde a primeira vez que estive em Salvador, em 1978, achei que aqui era um lugar diferente pelo cheiro, pela cor. Achei a cidade com uma claridade absurda e diferente de tudo o que eu já tinha visto, um encanto. Ao longo de tantos anos, vi a cidade ser maltratada, depois reerguida e reorganizada. Vi essa recuperação da cidade ser fortalecida especialmente nas últimas gestões municipais. E isso é percebido pelos amigos que chegam, pelos turistas, todos comentam como a cidade está muito bem cuidada. Foram abertos muitos museus nos últimos anos, como a Casa do Carnaval, a Cidade da Música, a Casa de Jorge Amado, o Muncab, soube que vai ser inaugurada a Casa das Histórias, tem a Galeria do Mercado Modelo, que quero muito conhecer, temos imóveis históricos preservados. Eu penso que zelar pelo patrimônio histórico, bem-estar e meio-ambiente é algo necessário para que a cidade continue cada vez mais forte.
CORREIO – Qual sua expectativa para esse segundo Carnaval pós pandemia?
FLORA GIL- Desde que chegamos aqui no final do ano passado, para Gil participar do Festival Virada Salvador, a gente tem visto a cidade cheia, os turistas alegres e multiplicando esta alegria, vem o pai e a mãe, trazem filhos, que trazem os amigos. O turismo na cidade de Salvador está ganhando cada vez mais força, mais peso, por isso hoje é o destino mais procurado do Brasil. A cidade está colhendo todas as coisas boas que plantou, e a expectativa é de que novamente Salvador receba um grande público e organize mais uma grande folia do momo, como tem feito por tantas décadas.
CORREIO – Você já pensou na possibilidade de voltar a ser apenas uma foliã? Curtir o Carnaval sem nenhuma preocupação?
FLORA GIL: Acho que não consigo mais. Quando me sento na plateia de um show fico imaginando o movimento no backstage, presto atenção na luz, no som, no público e na lotação da casa. Tenho o olhar de empresária e produtora. No Carnaval é a mesma coisa. Acho que não conseguiria brincar como uma foliã comum sem prestar atenção em tudo ao redor, no bloco, na segurança, na corda. E se houvesse algum imprevisto tenho certeza de que deixaria a foliã e prontamente estaria na produção, disposta a ajudar seja no que for. Meu olhar mudou e eu não acho que seja uma coisa tão boa ter esse olhar para mim o tempo todo, mas é como uma frase que li certo dia: “Não é mágica, é produção”. É isso que penso! O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador