Flamengo e Vasco estão em negociações com a prefeitura do Rio de Janeiro para obter autorização para obras, e caso seus planos se concretizem, poderão ter estádios separados por apenas alguns quilômetros.
O Flamengo tem interesse em adquirir um terreno próximo ao viaduto do Gasômetro, em São Cristóvão. Enquanto o Vasco aguarda avanços na Câmara do Rio em relação a um projeto de lei para ampliar a capacidade de São Januário. Os estádios do Gasômetro e de São Januário ficam a cerca de 3 km de distância um do outro.
Em meio ao ano de eleições municipais, políticos estão apoiando ambos os projetos de olho no eleitorado das duas torcidas.
O Flamengo não tem se pronunciado abertamente sobre as negociações e nunca apresentou publicamente um projeto para um estádio – o que incluiria saber a capacidade que a arena teria. Porém, o clube está buscando a ajuda do prefeito Eduardo Paes (PSD) para viabilizar a compra. O terreno em questão possui 86.592 m² e pertence ao fundo de investimento mobiliário do Porto Maravilha, administrado pela Caixa Econômica Federal.
A prefeitura adquiriu parte desse terreno da Caixa para a construção do terminal Gentileza, que é uma conexão entre ônibus, VLT e BRT, e foi inaugurado em março. Caso o estádio seja construído, ele ficará em frente ao maior eixo de transporte da cidade.
No entanto, os planos do Flamengo enfrentam alguns obstáculos. Um deles é o preço do terreno, já que o fundo da Caixa está pedindo mais de R$ 2.000 por metro quadrado. A Caixa afirmou em comunicado que os ativos do fundo estão disponíveis e que estão em diálogo com o mercado, mas não comentou sobre o interesse do Flamengo.
Outro obstáculo seria a possibilidade do estádio afetar a mobilidade da cidade, uma vez que o terreno está localizado em um dos principais cruzamentos do Rio, com acessos à Avenida Brasil e à Ponte Rio-Niterói, vias que conectam a capital fluminense a outros municípios e estados. Além disso, há contaminação do solo com altos níveis de metais pesados.
Em uma recente reunião com o prefeito Paes, o Flamengo apresentou a ideia de ceder o potencial construtivo da sede da Gávea, que na verdade fica na Lagoa, para reduzir o custo do terreno do Gasômetro. O deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ) se considera um apoiador político dessa ideia e mencionou o desejo de criar a “Cidade do Flamengo” na região próxima ao porto.
“Existe uma vocação de entretenimento por ali. Poderíamos criar potencial turístico desenvolvendo uma espécie de distrito do futebol, com um polo de museus. Teríamos um triângulo onde também estão localizados o Maracanã e São Januário”, afirmou o deputado, que é cotado para ser vice na chapa de Paes, que concorrerá à reeleição em outubro.
O ex-presidente do Flamengo entre 2013 e 2018, o deputado federal Eduardo Bandeira de Mello (PSB-RJ), associa a pressa do clube em adquirir o terreno ao ano eleitoral. Bandeira de Mello é oposição ao grupo de Rodolfo Landim no Flamengo, e a eleição no clube está marcada para dezembro.
“Durante a minha gestão na presidência do Flamengo, analisamos a possibilidade deste terreno, porém enfrentamos algumas dificuldades. É necessário que haja um estudo sério, estruturado e transparente. O que eu acho que não faz sentido é agir com pressa visando uma eleição ou forçar a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol”, afirmou o parlamentar, que também avaliou a viabilidade de áreas em Manguinhos e Barra da Tijuca durante a sua gestão.
Paralelamente, Flamengo e Vasco estão disputando a licitação para concessão do Maracanã. O Flamengo e o Fluminense, atuais permissionários, apresentaram uma proposta que compete com a parceria entre o Vasco e a construtora WTorre.
O Vasco também aguarda a aprovação do projeto de lei para reformar São Januário, inaugurado em 1927. O Executivo municipal enviou à Câmara do Rio uma autorização de operação urbana consorciada.
O clube, que teria o direito de construir no terreno onde está localizado o estádio, vende esse potencial não utilizado para investidores em outras regiões, como Barra da Tijuca e Avenida Brasil.
Com o dinheiro arrecadado, a reforma do estádio e do entorno seria viabilizada. As intervenções seriam supervisionadas por um conselho consultivo composto por dirigentes do Vasco, vereadores, representantes da prefeitura e associações de moradores.
O projeto prevê aumentar a capacidade de São Januário de 22 mil para 47 mil espectadores. As cadeiras serão substituídas, os camarotes ampliados e as marquises reformadas.
O projeto arquitetônico visa preservar a fachada e a tribuna, onde o ex-presidente Getúlio Vargas fez discursos em cinco eventos no dia 1º de maio. O Vasco também pretende construir uma ligação para pedestres entre São Januário e a estação de BRT Vasco da Gama, na Avenida Brasil.
O projeto está com a tramitação atrasada na Câmara do Rio. O texto precisa passar por 17 comissões antes de entrar na pauta de votação em dois turnos.
O vereador Pedro Duarte (Novo) apoia a reforma de São Januário, mas solicita alterações no texto. Para Duarte, é necessário modificar a parte que condiciona a liberação do potencial construtivo ao avanço das obras: por exemplo, o Vasco só poderia receber 50% da venda se tivesse concluído 40% da reforma.
“Se uma empresa quisesse adquirir metade do potencial de uma vez para construir um grande condomínio, o Vasco não poderia realizar essa transferência. Isso poderia atrapalhar as obras e o fluxo de caixa do clube. O modelo de gestão não pode dificultar o funcionamento adequado.” (Folhapress)