O Rio Grande do Norte teve um fim de semana de fortes chuvas. Segundo o sistema de monitoramento da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Emparn), só na capital potiguar choveu 235 milímetros (mm), enquanto a média do mês neste município é de 245mm. Entre a noite de sábado 2 e o início da noite de domingo 3, choveu 153,7mm em Natal.
“Outra chuva como essa em Natal ocorreu no dia 30 de julho de 1998, quando em um só dia choveu 253,2mm”, comentou Gilmar Bristot, chefe da unidade Instrumental de Meteorologia da Emparn. A chuva histórica também teve alto acumulado em Parnamirim, na Região Metropolitana, com 281mm – somente entre a noite de sábado e a noite de domingo, foram registrados 172,4 mm em Parnamirim.
O acumulado de chuvas foi acima de 200mm na região Leste potiguar nos primeiros quatro dias do mês de julho. Esses valores superam a média esperada para o mês inteiro nesta região, que era de 176,8mm. Riacho da Cruz, Macau, Cerro Corá, Ielmo Marinho são alguns dos 65 municípios potiguares que já atingiram os volumes de chuva esperados para o mês de julho.
As causas, segundo Bristot, decorrem do aquecimento do oceano Atlântico, com temperaturas acima 1,5ºC, registrando em torno de 28.4°C, que traz umidade para atmosfera do continente associada aos ventos do Leste que atuam na costa do Nordeste. “Climatologicamente, estamos no período chuvoso na Costa do Nordeste com bons volumes de chuvas esperados até setembro de 2022”, disse.
A chuva deve aliviar até a quarta-feira 6. A previsão para os próximos dias, de acordo com os modelos meteorológicos da Emparn analisados por Bristot, é que “na noite da quarta-feira e madrugada de quinta-feira, há possibilidade de índices pluviométricos acumulados superiores a 50mm na faixa Leste do estado. O sábado tem condição de tempo favorável para chuvas, mas em menor intensidade”.
Alagamentos e crateras causaram estragos na capital
Com as fortes chuvas, muitos problemas foram registrados tanto em Natal quanto em municípios vizinhos. Diversas ruas ficaram alagadas e, em consequência, muitas famílias perderam móveis e eletrodomésticos. Ao todo, 12 lagoas de captação de água transbordaram na capital potiguar.
Na Zona Norte, por exemplo, moradores do loteamento Parque Floresta, no bairro Pajuçara, ficaram praticamente “ilhados” – já que a maioria das ruas não é pavimentada. Alguns moradores usaram pneus para impedir que casas ficassem completamente alagadas.
Também na Zona Norte, a rua Tarauca ficou alagada. A via fica por trás de uma lagoa de captação, nas proximidades da Avenida Itapetinga. No bairro de Igapó, uma cratera se abriu na rua Nossa Senhora do Ó com a Santo Inácio. Na Zona Leste, a rua Mipibu, em Petrópolis, na lateral do colégio Auxiliadora, ficou debaixo d’água.
Na Zona Oeste, a lagoa de captação de São Conrado, no bairro Nossa Senhora de Nazaré, também transbordou, deixando as casas da Avenida 6 cheias de água. Uma cratera se abriu em Felipe Camarão, na rua Mirassol, o que causou a interdição do trecho do km 4 da BR-226, assim como a interdição de casas.
Na Zona Sul, a Avenida Xavantes, em Cidade Satélite, também ficou alagada e a água chegou na altura da cintura dos moradores. O cruzamento das Avenidas Prudente de Morais com a Nascimento de Castro ficou praticamente submerso. A lagoa de captação do Preá, em Nova Descoberta, também transbordou.
Um motorista foi filmado deixando o carro pela janela após o veículo ficar preso em um trecho alagado na rua da Saudade. Outros pontos críticos de alagamentos, que já são conhecidos pela população, também foram registrados: marginal da BR-101, na altura do viaduto IV Centenário, Av. Ayrton Senna, entre outros.
Oito bairros ficaram sem abastecimento de água
As fortes chuvas afetaram o fornecimento de água pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern). Segundo a Companhia, oito bairros da capital potiguar ficaram sem abastecimento. O bairro de Felipe Camarão ficou sem água por causa do rompimento da rede de drenagem na rua Mirassol, que provocou erosão na rua.
Nos bairros de Bom Pastor, Nazaré e Dix-sept Rosado, a interrupção no fornecimento é necessária para que a Caern execute reparo em vazamento registrado na Rua Miguel Castro, próximo à lagoa de captação de São Conrado. Já os bairros de Cidade Alta, Tirol, Petrópolis e Barro Vermelho ficaram sem água por causa de um vazamento na rua Mermoz, próximo ao viaduto do Baldo.
ETE Rota do Sol
As fortes chuvas provocaram danos na Lagoa de infiltração da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE-Rota do Sol). A estrutura que retém o efluente já tratado, formando a lagoa, foi parcialmente levada pelo alto volume de água, causando alagamento na via.
A Caern atua na recomposição da estrutura, conhecida como talude. Também está sendo instalada mais uma bomba, de maior vazão, para operar junto à já existente, para drenar o excesso de água que invadiu a Rota do Sol. A previsão da Companhia, se o tempo se mantiver estável, é que nesta terça-feira 5 toda a estrutura esteja reforçada.