Corporação alega que homem resistiu à abordagem e agrediu policiais, e parentes afirmam que ele tem problemas neurológicos
Com medo, só trancado no quarto e pensando em sair do bairro. Assim está o office boy Wesley Melo Vitor, de 20 anos, após ser abordado por militares no aglomerado da Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em conversa com a reportagem de O TEMPO, nesta quinta-feira (22), familiares questionaram a atuação da Polícia Militar durante a ação. Por outro lado, a corporação alega que o homem resistiu à abordagem e agrediu policiais, que ficaram feridos.
A confusão foi registrada na última sexta-feira (16) no beco Doutor Camilo. A cunhada de Wesley, a autônoma Carolina Fernanda Rosa França, de 25 anos, contou que o jovem saiu de casa, por volta das 19h30, para encontrar um amigo que estava visitando o aglomerado.
“Os policiais abordaram ele, que parou normal e deixou fazer a revista. Os militares pediram para olhar o telefone, viram um áudio em um grupo e colocaram a algema no braço falando que ele estava preso. Wesley tentou correr, um policial o enforcou e jogou ele no chão”, explicou Carolina.
Ao tomar conhecimento do caso, a mulher foi até o local e começou a filmar a ação. Nas imagens é possível ver Wesley já no chão sendo contido por três militares do Batalhão Rotam. Carolina pede para Wesley ficar calmo e grita para os agentes: “Para! Está machucando ele. Ele tem problemas, moço”.
A mãe do office boy acompanha toda a ação. Outros moradores da área se revoltam com a situação e chegam a gritar “vai matar o menino”.
Veja o vídeo gravado pela família:
Enquanto as pessoas gritam, um quarto militar tenta afastar os moradores e chega a atirar. “Afasta, afasta agora. Um vai conversar. Quem vai conversar? Só o padrinho dele, o resto cala a boca”, grita o militar. Imobilizado ainda no chão, Wesley chama pelo pai e, em seguida, é colocado na viatura.
“Levaram lá para UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Leste e ele precisou levar pontos, estava com o rosto machucado. O pai dele foi junto”, detalhou a autônoma.
Problemas neurológicos
Ainda de acordo com Carolina, com 2 anos e 3 meses, Wesley caiu da laje de casa e teve traumatismo craniano. Desde então, toma medicamentos e faz acompanhamento com neurologista.
No sábado (17), o homem passaria pelo teste de direção para carteira de habilitação de carro, mas, abalado, não conseguiu ir. A família já levou o caso à corregedoria da Polícia Militar. “O Wesley é muito tranquilo, todo mundo gosta dele. Eu acredito que isso acontece por ser favelado, negro, morador de comunidade, pela roupa que veste. Se fosse um ‘branquinho’, com traços finos, não tinha acontecido isso. Eu espero que a justiça seja feita”, desabafou.
Veja o desabafo de Carolina:
O que diz o boletim de ocorrência
No boletim de ocorrência, os militares afirmam que estava em um local de intenso tráfico de drogas e tentavam coibir a fuga de criminosos. Nesse momento, Wesley apareceu correndo e “demonstrou-se agressivo e com falas desconexas, sendo necessário controle de contato para que permanecesse em uma posição segura para a abordagem”.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da corporação afirmou que o jovem ofereceu resistência e que a corregedoria acompanha o caso. Veja o comunicado na íntegra:
“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) informa que o autor conduzido no Reds (o número foi retirado pela reportagem) resistiu a abordagem policial realizada durante operação no bairro Serra, no Aglomerado Sacramento. Os militares visualizaram suspeitos em fuga e, após uma perseguição, alcançaram o indivíduo que demonstrou ser agressivo, chegando a dar socos e empurrões nos militares, sendo dois policiais feridos na ocorrência.
O suspeito, durante a resistência a abordagem, chegou a pedir ajudar de moradores para fugir, insuflando pessoas nas imediações contra os militares, que usaram de técnicas de imobilização para conseguir algemar o autor.
Após a condução, acompanhada a todo momento pelo pai do autor, da condução até o atendimento de saúde, foi informado que esse realiza tratamentos médicos. A PMMG ressalta, ainda, que a Corregedoria acompanha os desdobramentos do caso”
Em menos de um mês, caso é o segundo denunciado por moradores
No dia 28 de junho, moradores de outro ponto do aglomerado da Serra ficaram revoltados com a ação da polícia após um dos militares atirar e matar Ryan Pablo da Silva, de 18 anos. À época, a corporação alegou legítima defesa uma vez que, segundo os policiais, Ryan tentou pegar a arma de um dos agentes.
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