Famílias chegam a gastar R$ 200 por mês para garantir tratamento. Executivo informou que aguarda entrega do item, mas não detalhou prazo
Moradores de Contagem, na região metropolitana, denunciam a falta de um medicamento anticonvulsivante nas farmácias distritais da cidade. Diante da não distribuição do medicamento pelo poder público, diversas famílias precisam tirar dinheiro do próprio bolso a adquirir o item, de extrema necessidade.
O remédio em questão é o ácido valproico. Servidores da rede municipal de Saúde de Contagem confirmaram à reportagem de O TEMPOsob condição de anonimato que, de fato, o estoque do remédio está zerado. “Está em falta em toda a rede. Chegaram poucas unidades no mês passado, e elas rapidamente acabaram, pois a procura é muito grande. Os pacientes sempre vêm aqui querendo saber se chegou”, afirmou um trabalhador da rede.
O aposentado Antônio Gonçalves Ramos, 88, é um dos que reclamam da falta do medicamento. “Meu filho tem 36 anos e não pode nem sonhar em ficar sem esse remédio. Hoje (ontem) mesmo, fui à farmácia e voltei para casa sem nada. Esta farmácia da prefeitura é avacalhada demais. Estou pagando o remédio do meu bolso”, relatou o idoso.
Quem também reclama é a dona de casa Mônica do Carmo, 45. O filho dela, que tem 22 anos, faz uso do medicamento desde o primeiro ano de vida e não pode ficar sem o remédio. “Nunca consigo pegar nas farmácias aqui de Contagem. Ele fica em falta quase sempre. Estamos tendo que comprar. Eu gasto quase R$ 200 por mês, pois ele precisa tomar nove frascos”, disse. Na rede privada, o remédio pode ser encontrado por a partir de R$ 15.
Ela não poupa críticas à prefeitura devido à falta do remédio. “É revoltante o que estamos passando, pois, na hora de cobrar imposto, a prefeitura não demora”, disparou.
Mônica conta que já fez diversas denúncias sobre o problema à Ouvidoria do município. “Uma vez, me ligaram falando que não iria faltar, mas logo depois voltou a safadeza”, esbravejou.
O médico infectologista Leandro Curi explicou que o medicamento é de uso contínuo – quem faz uso não pode ficar sem. “O principal objetivo (do remédio) é evitar crises de convulsão, além de tratar outros fatores neurológicos”, detalhou.
Estoque está vazio, confirma prefeitura
A Prefeitura de Contagem informou que o estoque do medicamento está completamente vazio desde o fim de fevereiro deste ano. Isso acontece, segundo o Executivo, devido à falta de estoque na Central de Abastecimento Farmacêutico, unidade da prefeitura, e ao consumo alto do medicamento – a demanda, no entanto, não foi informada. A situação começou a ocorrer em dezembro de 2021.
“A Secretaria Municipal de Saúde iniciou novo processo de aquisição deste item, por meio de adesão à ata do Estado. No momento, estamos em fase final do processo, aguardando a entrega do fornecedor, para restabelecer o estoque nas farmácias distritais no menor tempo possível”, afirmou o Executivo, em nota. Não foi detalhada a data prevista para a regularização da oferta.
Em BH, “o medicamento está abastecido nas unidades de saúde, e não há falta”, segundo nota da Secretaria Municipal de Saúde.