Ante a derrota iminente o presidente se desespera e se destempera. Toma decisões intempestivas, erráticas e no limite irresponsáveis. A mais recente é a que determinou zerar o ICMS cobrado sobre os combustíveis, numa tentativa de deter o processo inflacionário e segurar uma impopularidade crescente e talvez irreversível. A decisão provavelmente terá efeitos desastrosos do ponto de vista econômico e não vai reverter a situação de calamidade em que o país está mergulhado, vítima das políticas neoliberais do ministro Guedes, da Economia. Esse mesmo ministro calcula que as perdas fiscais com essa medida atingirão um montante entre 25 e 50 bilhões de reais (um cálculo bastante incerto, por sinal). A perda de arrecadação (em nível estadual, também) que isso provoca resultará em aumento da dívida pública, um dos fatores que desvia o investimento privado do setor produtivo para o improdutivo.
O ICMS não é “culpado” sozinho pela inflação sem controle. Esta é resultado de uma política ortodoxa de alta dos juros que inibe o investimento privado e o consumo das famílias. Alie-se a isso a contenção do gasto governamental e dos investimentos do governo, além de uma política de “arrocho” salarial que provoca a queda do valor real dos salários pagos às classes trabalhadoras. A variável externa (guerra entre a OTAN e a Rússia) pesa? Sim, pesaria para agravar, não como causa imediata. O fato é que a crise que se abate sobre o país é anterior à guerra e a nossa economia tem se defendido com relativo êxito.
Tudo isso explica o desempenho medíocre do PIB, o desemprego alto, a fome… Ao mesmo tempo, o presidente concede uma entrevista a um canal de televisão, em que um entrevistador mudo ouve as “respostas” ensaiadas e editadas do mandatário, enquanto um âncora assume a postura de porta-voz do governo. Triste figuração para um veículo de mídia que se pretende “independente”. Na “entrevista”, o presidente ensaia a “fritura” do ministro da Economia e faz críticas contundentes à Petrobrás. Parece o discurso de um candidato de oposição e não o do chefe de governo que nomeia o presidente da Petrobras e pode demiti-lo quando quiser. Na mesma “entrevista” para o entrevistador mudo, o presidente dá uma explicação surreal para o desencontro entre as decisões da Petrobras e os interesses do governo: os sócios minoritários estariam decidindo a política da empresa. Então, o que fazem os sócios majoritários? E o que faz o presidente que não demite o dirigente nomeado por ele para presidir a empresa?
Dessa forma, o presidente faz oposição a si mesmo. O que parece ter provocado a reação descontrolada do governo e seus aliados é o resultado das pesquisas mais recentes de intenção de voto para o pleito de 03 de outubro do corrente ano, confirmando uma tendência que se revela desde as primeiras pesquisas, apontando a derrota iminente do atual ocupante do Palácio do Planalto. Talvez no primeiro turno da eleição. O que mais uma vez desperta a curiosidade do observador é que o presidente e seu entorno apregoam que ele vencerá a eleição, quiçá no primeiro turno. Então, por que tanto barulho? Por nada?, perguntaria Shakespeare.