Uma população que vive cada vez mais. Com 2,5 milhões de pessoas com pelo menos 65 anos, Minas Gerais é o segundo Estado do país com mais idosos. Os dados do Censo 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados recentemente, mostram a importância de o poder público se preocupar com essa parcela da população, que precisa de atenção, cuidados e diversas políticas sociais próprias. Para além dos desafios, idosos também podem aproveitar ao máximo o melhor dessa fase e viver intensamente – com saúde e bem-estar – os anos que têm pela frente.
“Enquanto estivermos vivos, temos que aproveitar”. A afirmação é de Delisete Prata, que, aos 93 anos, curte a vida dançando, viajando e fazendo pinturas. Pedagoga, até os 78 ela trabalhou na escola que tinha com a nora. Depois que ela se aposentou, o lazer virou a principal atividade. “Sou o tipo de pessoa que é a primeira convidada para os eventos. Gosto de estar no meio do povo. Só que isso depende muito da cabeça de cada um, pois tem gente que com 70 anos já se sente velha, e isso eu não tenho”, revelou.
Ocupar o tempo é essencial, na visão de Delisete, para uma vida longeva. “A mente muito parada deixa você de fora do que acontece ao seu redor. Sou uma pessoa muito curiosa. Sempre que tenho dúvidas, pergunto para meus filhos e netos. Recentemente, aprendi a olhar no celular a posição do Atlético na tabela do Campeonato Brasileiro. Faço muita palavra cruzada também. Quando a dúvida aparece, olho no Google”, diz, aos risos.
Nos exercícios físicos, mais precisamente na corrida, Afonso Cappai, 79, encontrou a forma para aproveitar a vida após a aposentadoria depois de anos atuando no setor comercial. Há mais de uma década, ele corre três vezes por semana religiosamente. “Já estou com 53 mil quilômetros percorridos. A meta é chegar aos 60 mil. Levava uma vida muito desajustada, muito estresse, e tive sérios problemas de saúde. Foi aí que vi que era momento de fazer algo e dar a volta por cima”, relata.
Com o esporte, ele conseguiu melhorar a qualidade de vida. “Se não tivesse feito essa escolha, não sei se estaria aqui. Foi a atividade física que me proporcionou projetar o futuro. Anualmente, corro 2.500 km. É isso que me dá vida, melhora a minha autoestima”, conta, orgulhoso.
Geriatra e professora da Faculdade Ciências Médicas, Marayra França diz que são vários os motivos que contribuem para uma vida mais longa, como o fato de as pessoas estarem se exercitando mais e cuidando melhor da saúde. Além disso, explica, a medicina se atualiza constantemente, o que ajuda a realizar diagnósticos cada vez mais precocemente, e há mais políticas públicas para os idosos. Mas, para chegar até lá, é importante que todos comecem a pensar na velhice ainda enquanto são jovens.
“Todos os cuidados devem começar o mais cedo possível. Além dos citados, é importante também cuidar da saúde mental, pensar em atividade de lazer, investir na convivência com as pessoas”, afirma a médica.
Pesquisa foca a saúde na velhice: qual é o segredo?
Apesar de já se saber muito sobre as formas de viver a terceira idade de maneira saudável e como aproveitá-la, ainda há bastante o que descobrir sobre os “segredos” de quem chegou até ela tão bem. O Ambulatório de Atenção Multiprofissional ao Idoso sem Perda Funcional e em Risco de Fragilização, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estuda idosos com mais de 80 anos que não tenham experimentado perda funcional para entender melhor o envelhecimento saudável.
“Ter uma expectativa de vida maior não significa de que todos estão vivendo melhor. É importante viver mais, mas com qualidade. O conceito de saúde do idoso é um pouco diferente. Não se mede pela ausência de doenças, mas pela funcionalidade. Continuamos com os estudos para entender cada vez mais essa fase”, explica a professora do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG Ann Kristine Jansen.
Se, para os estudiosos, o bem-estar na longevidade ainda guarda segredos, Delisete Prata, 93, resolve o mistério de forma poética: “O amor. Quem ama a vida vive mais. A felicidade é a chave”, garante. Para ela, tem dado certo.
E é essa felicidade que está sendo cada vez mais testemunhada por Silvia Prata, que é professora de dança cigana e lida há 11 anos com o público da terceira idade. “O idoso descobriu o mundo e, agora, sabe que dá conta de realizar o que quiser. Vejo que estão menos dependentes, e isso os deixa mais felizes”, justifica.
Dicas
- Conforme a geriatra e professora da Faculdade Ciências Médicas Marayra França, é essencial acompanhamento médico regular e interdisciplinar, envolvendo fisioterapia, fonoaudiologia e nutrição.
- Preservar a função musculoesquelética e a mobilidade por meio da prática de atividade física regular é outra ação importante, segundo a médica.
- Ela aconselha ainda que se preservem laços sociais e familiares para otimizar a vitalidade.