O Teatro Gregório de Mattos recebe o espetáculo Deboche desta quinta (16) a domingo (19) de junho, às 19h. A produção da Escola de Teatro da Ufba, com direção de Paulinho Machado e orientação dos professores João Sanches e Leticia Bianchi (co-orientadora), é uma livre adaptação do texto Computa, Computador, Computa, escrito durante a o regime militar no Brasil pelo dramaturgo, poeta e escritor Millôr Fernandes para a atriz Fernanda Montenegro. Com humor, mistura musical entre ritmos tradicionais e eletrônicos, e um visual que une o pop retrô dos anos 70 com a moda futurista, o espetáculo reflete sobre os preconceitos da elite brasileira que atravessam a história e até hoje se fazem presentes no dia a dia.
A primeira montagem do texto aconteceu em março de 1972 com uma abordagem lúdica e contemporânea ao nosso período, mas contemplando os mesmos assuntos que atravessam a sociedade ainda hoje, como responsabilidade socioambiental, censura, corrupção, misoginia, racismo, homofobia, dentre outras questões. A peça retrata o desespero de uma atriz que acaba de nascer em um ambiente desconhecido, de difícil adaptação. Com um diálogo direto, numa espécie de “radiografia” da classe média nacional, Deboche levanta questões e critica pensamentos preconceituosos e elitistas, através de um diálogo debochado, musicado, engraçado, irônico e dinâmico.
“Deboche é meu espetáculo de formação na Ufba e o principal objetivo dele é usar do humor, da ironia, do deboche, para provocar pensamentos reflexivos sobre o atual momento político-social que estamos vivendo, além de gerar debates dentro e fora do ambiente acadêmico, levantando questões importantes para a sociedade em um diálogo direto com o público. Deboche é uma gargalhada irônica, musicada, política, nordestina, brasileira, latina, tecnobregacircenseafropunkfunkeira. Um deboche!”, afirma Paulinho Machado, que também é ator há 14 anos.
A visualidade do espetáculo ficou por conta da artista baiana Padmateo, que ao lado de Paulinho Machado uniu o futurismo com o retrô, com o circo, com o brega, o neon e muito mais, para conceber a identidade visual que incorpora os cenários e figurinos. Entre as principais referências estão David Bowie, Grace Jones, o estilo cyberpunk e a estética espacial. O universo futurista e irônico também se faz presente no trabalho de corpo dos atores, como revela a diretora de movimento e preparadora corporal Daniela Botero Marulanda, que ao longo do processo brincou com o clichê e com a surpresa na música e no texto para desenhar uma crítica, uma gargalhada que fale dos nossos corpos cansados.
“Experimentamos um trabalho físico e expressivo que brinca com gestos, poses e movimentos que nos remetem a acontecimentos recentes da realidade nacional. O trabalho coreográfico se alinha também com a ideia da repetição. Corpos automatas, robotizados que tentam sair da continuidade mas acabam achando poucas respostas originais. Corpos que podem rir ironicamente da incapacidade de mudar as coisas”, explica Daniela.
Um dos orientadores do projeto, o professor, diretor e dramaturgo, João Sanches, acredita que a versão de Paulinho Machado mantém as características essenciais da obra de Millôr Fernandes, ao mesmo tempo que atualiza e potencializa as questões sociais do texto: “Montar um texto que foi censurado já torna esse espetáculo muito potente, mas para além disso, a encenação retrata muito bem a polifonia de discursos sociais duvidosos e variados que vivemos atualmente, o que torna tudo muito mais complexo do que sempre pareceu ser”,
SERVIÇO: Deboche | de quinta (16) a domingo (19), 19h, no Teatro Gregório de Mattos | Ingressos: R$ 20 / R$ 10, à venda no Sympla