Investir em educação, fornecer acompanhamento psicológico de qualidade para crianças, adolescentes e familiares, e garantir condições adequadas dentro das instituições de ensino para professores e alunos são algumas das soluções apontadas por especialistas para combater a violência escolar. Na última terça-feira (20 de março), um adolescente de 17 anos ateou fogo à cortina de uma sala de aula e esfaqueou três pessoas na Escola Estadual Coronel Elpidio Alves Ferreira, na cidade de Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha. Após o crime, ele tentou cometer suicídio com a faca.
Embora muitas das soluções para a violência nas escolas estejam relacionadas às próprias instituições de ensino, a pedagoga e conselheira nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Ângela Mathylde, ressalta que é essencial observar para além dos muros das escolas.
Segundo ela, crianças e adolescentes que cometem ataques em escolas geralmente têm necessidades não atendidas no contexto familiar. “Muitas vezes, a família não está preparada para acolher essa criança ou adolescente. Um dos papéis da família é fornecer proteção, carinho, apoio emocional, e muitas vezes essas crianças não encontram isso”, afirma.
O problema se estende além do ambiente familiar, afetando também as escolas. Quando essas crianças e adolescentes chegam às instituições de ensino, costumam levar consigo as necessidades não supridas, porém, nem sempre encontram o suporte necessário no ambiente escolar.
Ângela Mathylde destaca que muitas vezes, as escolas focam apenas nos conteúdos programáticos, deixando de lado a acolhida e a proteção dos alunos. “Dessa forma, eles não conseguem lidar com o bullying, com o desrespeito, e podem se tornar agressivos. Muitas vezes não há reuniões com os pais, ou estes não comparecem. Adolescentes tendem a não compreender limites e consequências, pois seus sistemas neurais ainda não estão completamente desenvolvidos”, explica.
Segundo a pedagoga, a adolescência já é uma fase naturalmente complicada, com questões relacionadas à identidade, mudanças no corpo, entre outras. “É necessário investir em saúde pública e educação preventiva”, avalia.
“Tratados como números”
A coordenadora geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), Denise Romano, também defende o investimento na educação. Para ela, atualmente, professores, alunos e instituições de ensino são frequentemente tratados apenas como números.
“É crucial pensar no contexto em que a escola está inserida, nas condições de trabalho dos profissionais, e no bem-estar dos alunos. Tudo isso é fundamental”, ressalta.
Denise Romano enfatiza a importância do acompanhamento psicológico e pedagógico, assim como a promoção de uma cultura de paz. “Também é essencial promover campanhas de conscientização para combater a violência nas escolas, o crescimento do neonazismo, do racismo, e outras formas de discriminação”, destaca.