Além dos impactos financeiros, a falta de sanitários para milhares de mineiros também é responsável por aumentar o risco de proliferação de arboviroses – como dengue, zika e chikungunya, consideradas epidêmicas em Minas Gerais. São mais de 220 mil casos de dengue confirmados e 93 mortes pela doença em 2024. Outros 597 mil casos e 369 óbitos estão em investigação, segundo dados do Painel de Acompanhamento de Arboviroses do Estado de Minas Gerais.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) explica que, de fato, o cenário de falta de banheiros em residências representa um desafio adicional para a saúde pública, especialmente no combate às doenças transmitidas por vetores, como a dengue e a Covid-19. “Sem acesso adequado às instalações sanitárias, torna-se mais difícil manter práticas de higiene pessoal e ambiental, o que pode facilitar a propagação de doenças de modo geral”, disse.
Conforme estudos do Instituto Trata Brasil, 15,8% dos mineiros ainda não têm acesso a água, e 23,5% da população vive sem acesso a coleta. “Temos visto um aumento dos casos de dengue, que podem acontecer, por exemplo, pelo fato de um cidadão não ter acesso a água. Isso faz com que essa pessoa tenha que armazenar água e, muitas vezes, armazena de uma maneira inadequada, de modo que o local se torna um foco de proliferação do mosquito-da-dengue”, afirma a presidente executiva do Trata Brasil, Luana Pretto. Atualmente, Minas Gerais vive a sua pior epidemia de dengue da história.
Além das arboviroses, a carência de saneamento também traz impactos diretos aos casos de Covid-19 – enfermidade que já matou mais de 66 mil pessoas no Estado desde 2020. Isso, porque a falta de higienização correta potencializa a transmissão da doença, que ocorre pelo contato direto ou com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada. “Muitas pessoas têm acesso a uma quantidade limitada de água, e isso faz com que elas, muitas vezes, não façam a higiene das mãos adequadamente, o que prejudica a correta profilaxia que ajuda a evitar a doença”, pontua Luana.
O problema, segundo o coordenador de Vigilância em Saúde da Macrorregião Oeste de Minas, Alan Rodrigo da Silva, é que o sistema de saúde já está extremamente sobrecarregado em função dos surtos das duas doenças, o que pode gerar falta de vagas para internações. “Já falamos de um sistema bastante sobrecarregado e percebemos, em epidemias como a da dengue, o quanto o sistema é frágil. Um aumento de casos acabou sobrecarregando o sistema em todos os níveis de atenção. O impacto da falta de saneamento acaba gerando uma sobrecarga e até falta de vagas para atendimento dessa população”, explica.
A oferta dos serviços básicos para a população poderia resultar em redução nos números de casos de muitas doenças, conforme afirma o médico infectologista Leandro Curi. “Se nosso país fosse mais organizado, em diversos aspectos, entre eles loteamento, e outros déficits sociais fossem sanados, poderíamos ter, por exemplo, a redução de locais com água parada e, consequentemente, menos locais para proliferação do mosquito Aedes. A questão social no Brasil aumenta os casos de dengue”.
Feita com água e sabão, a higienização das mãos é um dos principais meios para reduzir a transmissão de microorganismos causadores de doenças infecciosas, como a Covid-19. Quem não tem banheiro em suas casas se vê impedido de realizar tal prática. “Aumentam as chances de contaminação, principalmente em residências que vivem muitas pessoas. E não é só Covid, mas também várias outras, como gripe, resfriados, tuberculose e qualquer outra de transmissão aérea”, pontua Curi.
Em nota, a SES-MG disse que implementa políticas no sentido de vigilância da qualidade da água para consumo humano, promoção de educação em saúde e oferta de assistência médica adequada para reduzir os impactos das doenças em populações vulneráveis. As políticas para o tratamento de doenças diarreicas agudas, Covid-19 e dengue incluem, por exemplo, medidas como campanhas de conscientização sobre práticas de higiene, sintomas das doenças e medidas preventivas; atendimento médico investido para garantir o acesso a serviços de saúde para diagnóstico e tratamento adequados; monitoramento e controle de casos e surtos por meio de sistemas de vigilância; vacinação como parte das estratégias de prevenção definidas pelos programas de combate às doenças e apoio psicossocial para aqueles afetados pelas doenças.