A seis meses das eleições municipais, Belo Horizonte vive um cenário incerto, sem um favorito claro aos olhos do eleitorado. Para além da corrida por votos, os pré-candidatos lidam com um desafio a mais, a dificuldade para realmente se estabelecer como postulantes ao Executivo. Esse cenário tem como pano de fundo a influência e a pressão exercidas por atores da política mineira e nacional que estão em Brasília, um fenômeno que atinge da esquerda à direita.
O prefeito Fuad Noman (PSD) é um dos afetados por esse processo. Desde que assumiu o governo no lugar de Alexandre Kalil (PSD), ele sofre pressões do seu partido para dar mais espaço à legenda na PBH. Um dos últimos movimentos tensionados por essa relação foi o fim do acordo do prefeito com o secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro, que contou com o protagonismo do senador Rodrigo Pacheco (PSD).
Correligionário de Fuad, Pacheco fez pressão pelo afastamento de Aro da prefeitura. Nos bastidores, o entendimento é que o senador fez lobby já de olho em 2026, quando pretende se candidatar ao governo de Minas. Como Aro está na administração Romeu Zema (Novo), deve apoiar o vice-governador Mateus Simões, provável concorrente do presidente do Senado daqui a dois anos.
Outra razão para o fim do acordo de Fuad com a Família Aro – que tinha o objetivo de garantir governabilidade na Câmara Municipal, onde o secretário controla um grupo de vereadores – é a própria eleição belo-horizontina. Aro não fechou apoio a Fuad e pode sair com o senador Carlos Viana (Podemos), outro pré-candidato.
Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec, a falta de protagonismo político de Fuad ao longo dos anos o coloca numa posição de aceitar exigências partidárias. “Ele não é uma figura política conhecida pelo eleitorado. O Fuad depende muito do apoio partidário e dos padrinhos políticos. Não acredito que essa pressão seja apenas do Pacheco. Acredito que o Lula tem influência também, porque costura um apoio a Pacheco em 2026”, avalia.
PT. A influência de Brasília não é exclusividade de Fuad Noman. Pré-candidato do PT em BH, o deputado federal Rogério Correia enfrenta uma queda de braço interna para viabilizar seu nome. O principal entrave é o apoio do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Quando esteve em BH em fevereiro, o petista sequer mencionou o nome do deputado publicamente. Também não o colocou na mesa do evento, lugar ocupado pelo atual prefeito.
Por outro lado, pesa a favor de Correia o fato de o PT já ter alianças em outras capitais do Sudeste, como a com Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo; e a com Eduardo Paes (PSD) no Rio de Janeiro. Assim, BH serviria para que o partido “marcasse território”, pensando em 2026.
Para Adriano Cerqueira, o enfraquecimento do PT em Minas após o governo Fernando Pimentel (PT) atrapalha mais Correia do que a falta de apoio partidário, mas as duas questões se somam. “Desde que acabou o governo Pimentel, ainda veio a Lava Jato, o partido saiu enfraquecido em Minas e em Belo Horizonte. O Lula ainda tem um peso eleitoral, é um grande cabo eleitoral. Mas é mais conveniente para ele apoiar o prefeito do que investir numa aventura com o Rogério”, avalia o cientista político.
Cenário à direita é consolidado
Na direita, a pré-candidatura do deputado estadual Bruno Engler (PL) tem um cenário mais apaziguado no momento, mas enfrentou resistência de lideranças da legenda. Nos corredores do diretório estadual e da executiva nacional do PL, a preferência de boa parte dos caciques era pela candidatura do deputado federal Nikolas Ferreira (PL), parlamentar mais votado do Brasil em 2022. Aos olhos dos políticos mais experientes, Nikolas seria o grande favorito da disputa. Na última eleição, há dois anos, o deputado teve 306.625 votos na cidade, o que representa 22,4% do eleitorado.
A articulação se voltou a Engler porque Nikolas não quis deixar Brasília para concorrer em Belo Horizonte. A avaliação de interlocutores é que o deputado quer viabilizar seu nome nacionalmente, portanto voltar à capital, onde foi vereador por dois anos, atrapalharia esse projeto. Os olhos dele estariam voltados ao governo de Minas em 2026. Assim, com Nikolas fora do páreo, o caminho ficou livre para Engler se viabilizar.
Palavra final. Na visão do cientista político Adriano Cerqueira, assim como acontece no PT, as decisões no PL dependem da estratégia a ser adotada pelo seu principal líder, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O que o Bolsonaro decidir tende a ser o desfecho. O PL só virou um grande partido por causa do Bolsonaro. Tanto o Bruno Engler quanto o Nikolas sabem disso. Então houve um entendimento entre eles (para evitar desgastes). O lado da direita está mais claro”, diz.
Situação inversa para o nome do PSDB, de centro-direita
Na centro-direita, há um fenômeno contrário: Brasília viabiliza a candidatura, mas o ex-deputado estadual João Leite (PSDB) ainda não decidiu se vai concorrer. Em evento em março com a presença do presidente nacional Marconi Perillo, lideranças tucanas fizeram coro por mais uma candidatura dele. Em entrevista esta semana à rádio FM O TEMPO 91,7, ele não confirmou a candidatura e disse que convencer sua família a aceitar a disputa é uma dificuldade.
História. João Leite teve sete mandatos consecutivos, mas não se reelegeu em 2022. Ele tentou se eleger prefeito três vezes, mas parou no segundo turno em duas oportunidades: em 2000, perdeu para Célio de Castro; e em 2016 foi derrotado por Alexandre Kalil.