Final dos anos 90, uma jovem repórter (esta que vos escreve) e seu amigo estudante de artes cênicas aportaram na capital paulista em busca de aventuras culturais. O desjejum– uma econômica e tradicional média,pão com manteiga e café com leite – era degustado em meio à leitura obrigatória dos cadernos culturais para seleção da agenda gratuita ou de baixo custo a ser cumprida no dia. E foi assim que Marcílio Amorim adquiriu histórias e repertório para saber aonde exatamente queria chegar. Aos palcos, como nesta temporada dos sonhos com a peça Meu Seridó, que iniciou nesta semana (quarta-feira 7) e segue até o dia 31 de julho, no Teatro Sesi São Paulo, no Centro Cultural FIESP, situado na via mais “nervosa” do Brasil, a avenida Paulista.
Hoje, ele e suas amigas – as atrizes Titina Medeiros e Nara Kelly – e amigos Caio Padilha e Igor Fortunato – colegas de cena que compõem grupo Casa de Zoé, traduzem por meio deste espetáculo a riqueza de uma região que interliga dois estados nordestinos, Rio Grande do Norte e Paraíba, cada qual agraciado com seu pedaço de “Meu Seridó”. Querido por toda a classe artística potiguar e também de outras plagas tupiniquins, Amorim é um artista multifacetado, que não por acaso recebe esta singela homenagem. Ainda se recuperando de problemas de saúde, ele considera que estar na tão querida terra da garoa em temporada de três semanas é mais do que um presente “é um verdadeiro sonho”.
Em meio a tantas limitações impostas à classe artística (acesso ao mercado de forma justa, principalmente), ele se destaca por ter ideias que têm uma amplitude coletiva, como é o caso das agências Elenco Mosh e Trama, uma para modelos, figurantes, atores e atrizes, voltadas aos mercados publicitário, fonográfico e audiovisual, e a outra voltada especialmente para atores e atrizes profissionais. Nesse caso, o irrequieto Mardecílios – que até um dia desses era o “papai noel” mais fofucho da paróquia e o dublê de DJ mais eclético das baladas potiguares – é responsável pelo agenciamento de diversos artistas potiguares – como é o caso de Titina Medeiros e César Ferrário, que já acumulam diversas produções globais, além de Priscilla Vilela (escalada para a novela Travessia, de Gloria Perez) e tantos outros nomes.
MEU SERIDÓ
O espetáculo teatral “Meu Seridó” resolveu trazer o sertão do Rio Grande do Norte até o público em uma crônica leve e divertida. Surgido do desejo da acariense Titina de versar sobre suas origens, o que no início era um espetáculo solo, possível de caber numa mala e se apresentar em alpendres e terreiros de comunidades rurais, ganhou outra dimensão com a chegada do dramaturgo Filipe Miguez e do diretor César Ferrário e passou a ser um espetáculo de cinco atores. Foram nove meses de montagem, 36 profissionais envolvidos e mais de 70 apresentações, desde a estreia em 2017.