Dr Geraldo Ferreira. Foto: Arquivos do Agora RN
A crise econômica e o alto índice de desemprego no Brasil apontam para uma redução no número de cargos de trabalho assalariados. Todos os setores são afetados, inclusive a área da saúde. É por isso que o cooperativismo médico auxilia a retomada econômica através do empreendedorismo, de acordo com as necessidades do mercado.
O cooperativismo existe em sete ramos: agropecuário; consumo; crédito; infraestrutura; trabalho, produção de bens e serviços; transporte e saúde. Neste sábado, 2 de julho, é comemorado o Dia Internacional do Cooperativismo. O Brasil lidera o cooperativismo de profissionais de saúde no mundo: ao todo, são 300 mil médicos cooperados distribuídos em cerca de 800 cooperativas.
Em uma cooperativa, os profissionais são donos e médicos, fazendo efetivamente parte desse sistema com voz ativa na administração do negócio. Apesar de atuarem de maneira autônoma, sem cargos assalariados, os cooperados partilham decisões e resultados.
No Rio Grande do Norte, há 164 cooperativas, 72.163 associados e 320 mil usuários dos serviços. A Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do RN (Coopanest) foi a pioneira, fundada em 1994, quando os profissionais decidiram se desligar de empregos que pagavam remunerações inadequadas e criaram suas próprias tabelas.
“O cooperativismo se reveste de uma possibilidade de fazer trabalho em prol da sociedade. Nós reunimos anestesistas com o mesmo pensamento para cooperar em união. Temos essa perspectiva de iniciativas que se preocupam com a comunidade”, disse Rogério Nei de Brito Costa, diretor técnico e médico da Coopanest RN.
A Coopanest incentivou e abriu a visão de todas as outras categorias. Antes da cooperativa, os contratantes faziam o que bem entendiam. Com a cooperativa, a situação mudou e os médicos passaram a ter mais direitos garantidos nos contratos.
Depois do sucesso da Coopanest, surgiu a Cooperativa dos Médicos (Coopmed). Atualmente, a organização possui 2,2 mil profissionais, sendo a maior cooperativa do estado em número de médicos. Representa, portanto, a maior parcela do mercado de trabalho para os jovens médicos. O RN também conta com a Organização das Cooperativas do Estado (OCERN).
Se não fosse o cooperativismo, os médicos estariam precarizados e subempregados até hoje. “O cooperativismo, além do mercado de trabalho, oferece remunerações adequadas, bem-estar do exercício profissional e ganhos sociais, porque há estabilidade. A cooperativa cuida da vida financeira dos profissionais, do processamento dos honorários e vencimentos, taxas, tributos, recolhimento do INSS, garantindo a seguridade social”, frisou o médico Geraldo Ferreira.
Presidente licenciado do Sindicato dos Médicos do RN (Sinmed), Geraldo Ferreira participou da criação e viabilização da Coopanest, quando presidente da Sociedade de Anestesiologia do RN, criou e presidiu a Coopmed e atualmente preside a CoopBrasil, a mais nova Cooperativa de Médicos que se propõe a oferecer serviços completos, como por exemplo cirurgias, envolvendo trabalho médico e despesas hospitalares juntos.
Papel das cooperativas no Estado
Com a força conjunta, as cooperativas também oferecem um maior poder de negociação dos formatos de trabalho e serviços. Dessa forma, Geraldo Ferreira exalta o papel das cooperativas no Rio Grande do Norte.
“Como o cooperativismo não visa apenas o lucro, mas o bem-estar dos médicos e da sociedade, os investimentos das cooperativas são implantados localmente, de forma natural, e precisam de um olhar diferenciado. Por exemplo, se há uma licitação pública, a vantagem competitiva deveria ser das cooperativas, porque o que elas ganharem serão investidos no RN”.
Nesse contexto, durante a pandemia da Covid-19, as cooperativas do RN sofreram com a concorrência de empresas de fora, que venceram licitações para administração de serviços de saúde no estado.
“Algumas empresas cobram preços bem abaixo do mercado e não acompanham a inflação. Em consequência, o que acontece é que a maioria dessas empresas de fora que ganha licitação não consegue profissionais para trabalhar”, relatou Geraldo Ferreira.
Representação dos médicos cooperados na política é essencial
O médico Francisco das Chagas, presidente em exercício do Sinmed, defende que as cooperativas tenham um olhar mais atento. “Como é um ano eleitoral, os médicos cooperados devem buscar representatividade no Parlamento. Porque todas as leis que podem beneficiar as cooperativas passam pela Assembleia, pela Câmara e pelo Senado”.
Para ele, a representação política traria leis que poderiam possibilitar vantagens competitivas. “As cooperativas merecem essa prioridade, essas vantagens competitivas, porque elas trabalham o mercado local, a regulamentação justa do trabalho, um serviço de excelência, e possuem compromisso com o bem-estar dos profissionais”, afirmou.
E continuou: “quando você melhora as condições de trabalho dos médicos, você melhora consequentemente o atendimento à população. Por isso, se faz tão necessária a representação política nesses ambientes legislativos”.