O Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial marca este domingo 3 e, desde a criação da primeira lei brasileira contra o racismo, há 70 anos, até os dias atuais, ainda se mostram necessárias ações de educação desde o ensino infantil para erradicar práticas preconceituosas que podem causar impactos duradouros nas gerações futuras. De acordo com uma cartilha publicada pelo Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard em 2020, o preconceito racial sofrido na infância pode ter um efeito significativo de desgaste no cérebro em desenvolvimento e em outros sistemas biológicos, além de consequências na aprendizagem, no comportamento e na saúde física e mental dos indivíduos.
A psicóloga Sandra Duarte Antão, docente do curso de Psicologia da Estácio, explica que as relações sociais são parte essencial da formação da personalidade, podendo contribuir para o desenvolvimento de aspectos como autoestima, autoeficácia, empatia e altruísmo. No entanto, existem fatores que operam de maneira negativa na vida de uma criança e a exposição ao racismo traz essa realidade, podendo gerar consequências que irão impactar de maneira dolorosa na sua subjetividade. “A criança pode ter sentimentos ambivalentes, sentindo-se triste, irritada ou ansiosa, podendo gerar comportamentos como isolamento social, evitação ou ainda agressividade por não sentir-se pertencente àquele contexto. Vale lembrar que o preconceito faz parte da nossa sociedade estruturalmente racista, que construiu modelos de beleza e atratividade social, que certamente não considerou a pessoa preta na construção desse referencial”, descreve.
Sandra, que é doutoranda em Psicologia, ressalta que cabe à família, à escola e aos que fazem parte da formação da criança contribuírem para práticas que fomentem a construção do sujeito respeitando sua história e suas características, para que a opressão à qual está vinculada sejam permanentemente combatidas. “Desta forma, poderemos gerar debates que ofereçam às crianças condições de um desenvolvimento focado em estratégias promissoras que auxiliem na formação de uma identidade segura e protegida, fomentando práticas que conduzirão à formação de um discurso autêntico e sadio sobre si”, opina a professora da Estácio, citando um trecho da obra Pequeno Manual Antirracista, da escritora Djamila Ribeiro, que diz que “é importante ter em mente que para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade”.
Escola e família precisam se unir para combater o racismo
A professora do curso de Pedagogia da Estácio, Carollini Graciani, explica que o papel da escola no combate ao racismo está vinculado à discussão de questões de autoestima, aceitação e respeito às diferenças desde o ensino infantil. “Nessa fase, a criança costuma replicar muito o que vê e ouve, e é natural que questione as diferenças estéticas entre elas. No dia a dia, o educador vai trabalhando ludicamente com essas crianças o fato de não existir um padrão, que cada um é único, que nosso país é rico culturalmente e que devemos respeitar as características dos amiguinhos, tudo isso por meio de contos e atividades. E sempre, claro, inserindo a família nessa parceria que é educar”, orienta a pedagoga.
Já nos ensinos fundamental e médio, a abordagem é diferente: nesta fase já se pode ir a fundo em questões históricas e mostrar notícias atuais para trabalhar temáticas de responsabilidade, conscientização e respeito, lembrando aos jovens que a sociedade só vai progredir nesta e em outras questões se a geração atual mudar de atitude e não perpetuar comportamentos de cunho racista. “Nesta idade, quando um professor presenciar um aluno desrespeitando outro, é necessária uma intervenção pedagógica naquele momento, não pode deixar para resolver depois. É preciso parar a aula e explicar o que é o racismo, como ele se construiu e acontece atualmente, mostrar, com exemplos atuais, que a pessoa negra pode chegar onde quiser, que pode e deve ocupar o espaço que desejar”, enfatiza a docente.
“Assim, trabalhamos a questão do respeito ao próximo e, ao mesmo tempo, a autoestima de quem sofreu o preconceito, e é ela que o ajudará a se defender de atos discriminatórios futuros. E mais uma vez, trabalhar junto à família para que este aluno tenha uma postura de respeito com o próximo”, reforça Carollini.