Espetáculo, que gira em torno do fictício encontro entre Edith Piaf e Bertolt Brecht, retorna aos palcos neste fim de semana
“É uma alegria a gente poder se encontrar”, afirma Letícia Sabatella, em entrevista ao Revista, celebrando a oportunidade de voltar a encenar o espetáculo “Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho”. A reestreia da peça, que esteve em cartaz antes da pandemia, será neste fim de semana em Belo Horizonte, terra natal da atriz e cantora de 50 anos. “É uma bênção, uma graça mesmo a gente poder ir, reestrear, recomeçar, em um momento em que a gente está reabrindo, está tendo um pouco mais de controle da situação”, vibra a artista, que atualmente está no ar como a imperatriz Teresa Cristina na novela “Nos Tempos do Imperador”, da Globo.
“Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho”, que será apresentado no Cine Theatro Brasil Vallourec, gira em torno do fictício e improvável encontro entre a cantora francesa Edith Piaf (1915-1963) e o dramaturgo e compositor alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Escrito por Aimar Labaki, o drama musical, inspirado na estética dos cabarés da década de 1920, é protagonizado por Letícia e pelo ator e cantor Fernando Alves Pinto – os dois dão vida, respectivamente, a Edith e Bertolt, versões da cantora e do dramaturgo, que farão uma disputa musical inusitada. No palco, eles interpretam canções como “La Vie en Rose”, imortalizada na voz de Piaf, e “Speak Low”, de Brecht, entre outras.
“É a história de dois artistas, bem palhaços, que estão discutindo e decidindo qual espetáculo eles devem fazer para o público gostar bastante; de alguém que seja um grande artista mundial”, explica a atriz. “A Edith, que é apaixonada pela Piaf, quer fazer o espetáculo sobre a cantora. E o Bertolt quer fazer sobre Brecht, porque diz que ele é o mais importante entre todos os dramaturgos. Eles discutem para ver quem é melhor e resolvem fazer uma disputa que conta com a ajuda da plateia”, diz Letícia.
Segundo ela, “Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho” não é uma biografia da cantora francesa e do dramaturgo alemão. “Tem momentos muito emocionantes, muito sensíveis da vida dos dois. Há momentos realmente que a gente fala da trajetória de resistência, tanto do Brecht quanto da Piaf. Mas tem também o momento que estamos brincando e jogando para a plateia esse concurso. Ficou uma linguagem muito divertida essa construção que o Labaki ofereceu para a gente poder brincar, construir as cenas”, pontua a atriz.
Por causa dos protocolos de segurança e saúde adotados por causa da pandemia do coronavírus, o espetáculo precisou passar por algumas modificações. “Algumas cenas em que eu ia para a plateia, que eu me jogava em cima das pessoas, isso eu não vou fazer. Vai ser tudo de uma maneira mais delicada, distanciada, lógico. Mas a gente vai estar ali, ao vivo”, ressalta Letícia. “A gente ainda vai estar cumprindo protocolos, obviamente”, frisa.
Preparação intensiva e parceria de longa data
O espetáculo “Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho” foi encenado pela primeira vez em 2017. Letícia Sabatella relembra que na época teve pouco tempo para se preparar para interpretar a personagem Edith no drama musical. “Eu tinha me programado para me preparar para fazer a Piaf em um determinado período. Mas aí veio a Delfina da novela ‘Tempo de Amar’, e eu tive que conciliar tudo”, conta ela, referindo-se à vilã que interpretou no folhetim que estreou na Globo em 2017. “A gente teve uns sete dias de ensaio, juntos, da peça. Mas lógico que não foi só isso”, diz a mineira, que também viu vídeos e escutou as músicas de Edith Piaf em casa para decorar as letras. “Foi uma preparação intensiva”, comenta.
Nesse processo, ela contou muito com a ajuda do companheiro de cena Fernando Alves Pinto, que é ex-marido da atriz. “Eu e o Nando nos conhecemos há uns 26 anos, mais ou menos. Ficamos casados também um período das nossas vidas – acho que o nosso encontro, juntos, durou sete anos. Mas já éramos amigos, e continuamos amigos agora”, pontua Letícia. Quando “Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho” estreou, eles ainda eram casados. A separação aconteceu em 2019.
“Ele é um parceiraço, um superartista de muitos talentos”, elogia Letícia. “É incrível como ele faz esse trabalho, porque ele toca trompete, faz o Brecht de um jeito com muitas caricaturas geniais que ele cria e também os outros personagens que ele faz na peça. É um forte do trabalho do Nando essas construções de caricaturas boas. Esse traço que o Ziraldo, que é o tio dele, tem na pintura, o Nando tem também quando faz um trabalho mais cômico. Ele traz esse traço ‘ziraldiano’ na atuação, se é que eu posso dizer assim”, observa a atriz.
‘A música é o fundamento de tudo na minha vida’
Letícia Sabatella tem uma trajetória de mais de 30 anos na televisão, e se destacou em papéis como Latiffa, de “O Clone” (atualmente em reprise no “Vale a Pena Ver de Novo”), e Yvone, de “Caminho das Índias”. Atualmente, ela está no ar como a imperatriz Teresa Cristina, esposa de Dom Pedro II no folhetim “Nos Tempos do Imperador”, que tem sido muito elogiada pela atuação.
“Acho que a Teresa Cristina acabou gerando uma identificação muito grande com muitas mulheres, com muitas mães, com muitas pessoas que perderam suas mães. Ela representa um arquétipo muito necessário no momento, que são os cuidados sociais, que são essa maternagem que o povo careceu tanto de cuidados reais a partir do seu Estado, do seu governo”, afirma a atriz. “Eu também me encantei em fazer a Teresa”, pontua.
Além de atuar, a mineira tem soltado a voz na novela no canto lírico. “O canto lírico me trouxe um pouco mais de tensão porque eu não estava mais com a embocadura do canto lírico há uns ‘quinhentos anos’, e todo o meu trabalho de cantar está sendo para trazer essa voz. A Piaf é a minha musculação vocal porque é um trava-línguas a maneira como ela canta”, admite a atriz, que já fez parte do Coral Sinfônico do Paraná.
A artista conta que a música sempre fez parte de sua vida. “Ela já veio junto com a vida. Juntos às dificuldades e à superação, veio a musicalidade como antídoto, como bálsamo, curativo, nas mulheres da família”, comenta. “A gente aprende muita coisa no berço com a mãe cantando, com a avó ninando, e eu tive isso, eu tive essa sorte”, afirma ela, que completa: “A música é o fundamento de tudo na minha vida”.
Serviço
O quê. “Piaf e Brecht: A Vida em Vermelho”
Quando. Sexta (5) e sábado (6), às 21h
Onde. Cine Theatro Brasil Vallourec (rua dos Carijós, 258, centro, BH)
Quantos. Presencial – R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) / Virtual* – R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)
Ingressos à venda na bilheteria do teatro e no site do Cine Theatro Brasil Vallourec.
*O espetáculo terá formato híbrido.
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