O tapete vermelho de um dos principais festivais de cinema do mundo se estende hoje, pela primeira vez, para uma produção potiguar. O curta-metragem Sideral, filmado em Natal, Ceará-Mirim e Parnamirim, será exibido às 11h (7h da manhã, no horário de Brasília) junto aos outros nove filmes que concorrem à Palma de Ouro, em sessão única, para jurados, crítica especializada, imprensa e artistas de todo o mundo.
A obra do diretor Carlos Segundo, em parceria com a Casa da Praia Filmes, marca a estreia do Rio Grande do Norte em Cannes. Mateus Cardoso, 33, que está no elenco de atores do curta, mas também aparece nos créditos como assistente de produção, conversou com exclusividade com o Agora RN, diretamente da França, onde aguardava ansioso o momento da exibição.
“A expectativa é a melhor possível. O bom de fazer cinema é que o filme já está pronto, a gente já viu, já gosta, curte e confia no nosso trabalho. Mas gera sempre uma ansiedadezinha em querer saber como vai ser a recepção do público”, afirma ele, que tem grande experiência atuando no teatro. Completam o time potiguar na França, Pedro Fiuza, fundador da Casa da Praia Filmes e produtor de Sideral, Mariana Hardi, produtora executiva, e Carlos Segundo.
Mateus conta que estar em Cannes tem sabor especial porque os filmes são exibidos com as pessoas que trabalharam na sala. “Então é quase como uma peça de teatro, porque você pode sentir ali, naquele instante, como estão reagindo ao seu filme”, explica. Formado em Rádio e TV pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), ele afirma que sempre sonhou em fazer cinema a partir de Natal, para Natal e do ponto de vista do natalense.
A indicação – independente do resultado – já é, para o ator, a grande prova de que isso é possível. “Esse filme atesta essa possibilidade contra todas as investidas do neoliberalismo de dizer ‘façam em São Paulo!’, ‘É melhor ir pro Rio!’”.
O curta-metragem já nasceu em um cenário pouco favorável para a arte, praticamente ausente de mecanismos de incentivo nacionais. A produção conseguiu fundos por meio da Lei Aldir Blanc, um suporte temporário criado em resposta à pandemia de covid-19, com gerenciamento e distribuição recursos pelo governo estadual. Segundo Mateus, foi “o último suspiro” de possibilidade de captação para arte no Brasil.
O atual momento de escassez de recursos levou o país a não ter indicação alguma na categoria principal. O segundo concorrente brasileiro, também na categoria de curta-metragem, “Céu de Agosto”, não esperou financiamento nacional para se realizar. Foi filmado em São Paulo, com equipe toda brasileira, mas sem nenhum dinheiro captado no Brasil. O financiamento do curta é todo americano.
O Festival de Cannes se encerra neste sábado, 17 de julho, quando serão anunciados os vencedores. A cerimônia será transmitida pelo Youtube às 19h15 (14h15, no Brasil).
“Essa obra só poderia ter sido realizada aqui”
Sideral é uma ficção que se desenvolve em torno do histórico dia do lançamento do primeiro foguete tripulado brasileiro na base aérea de Natal e como isso afeta a vida de Marcela, Marcos e seus dois filhos.
Carlos Segundo, diretor do filme e autor da obra, explica que o filme transita entre os campos poético e realista, conseguindo com isso convergir elementos técnicos e estéticos de uma forma muito singular, e que pode se enquadrar na “tragicomédia”.
“Sideral é um filme que passeia de forma sutil por diferentes temas. É uma obra que só poderia ter sido realizada aqui”.