Quem já viveu muito tempo longe da terra natal sabe como os sabores da memória afetiva fazem falta. Na Rodoviária, é comum ver famílias que estão indo para longe carregar na sacola fardos de castanha, frutas da região e outras iguarias, para si ou para familiares que aguardam do outro lado do caminho, mas uma parceria entre produtores baianos e uma plataforma digital vai encurtar a distância e baratear o serviço de entrega para quem está longe e para quem está perto.
Quatro cooperativas de produtores de agricultura familiar baiana foram selecionadas para participar do programa Empreender com Impacto+Biodiversidade, realizado pela empresa de comércio eletrônico Mercado Livre e pela Giral Viveiro de Projetos, uma consultoria que trabalha com geração de valor compartilhado. Foram 250 inscritos em todo o Brasil e 89 empreendimentos aprovados
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Castanha será vendida torrada e em pasta (Foto: Divulgação) |
O gerente comercial da Cooperativa da Cajucultura Familiar do Nordeste da Bahia (Cooperacaju), umas das associações beneficiadas, Murilo Nunes, contou que através do programa será possível usar a infraestrutura do Mercado Livre, haverá isenção em taxas, e divisão de custos. Isso vai tornar a compra mais barata e a entrega mais ágil para o consumidor, seja ele empresa ou o comprador comum.
“Será possível, por exemplo, enviar os produtos para os Centros de Distribuição do Mercado Livre, como o de São Paulo. Então, se um cliente em São Paulo quiser um dos nossos produtos, ele vai receber a mercadoria em um tempo muito menor do que se tivesse que aguardar o envio da Bahia. Além disso, a cooperativa e o Mercado Livre vão dividir parte dos custos do frete, o que vai tornar ele muito mais barato para o consumidor”, disse.
A expectativa é de que o valor da taxa de frente caia pela metade, e, dependendo do destino e da quantidade de produtos comprados, ela pode ser gratuita. Atualmente, a cooperativa tem parceria com empresas de e-commerce específicas em algumas regiões do país e vende as castanhas para estados como São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Ceará e o Distrito Federal, entre outros.
Expectativa é que faturamento das cooperativas selecionadas cresça 50% (Foto: Divulgação) |
Mas Salvador ainda é o principal destino das castanhas produzidas pelos 750 agricultores do semiárido que fazem parte da associação. Hoje, a mercadoria leva de dois a quatro dias para chegar à capital. A expectativa é de que após o início da parceria com o Mercado Livre esse tempo caia pela metade. Em época de pandemia, quando a população transformou a internet em supermercado, a estudante de nutrição Ana Luísa Trindade, 26 anos, comemorou a mudança.
“Frete mais barato, ou zerado, e tempo de entrega mais rápido são palavras mágicas para quem compra pela internet. Grande parte da produção das cooperativas vai para restaurantes ou lojas especializadas na venda desses produtos, mas agora com essas vantagens, o consumidor comum pode se sentir mais motivado a comprar”, disse.
Além da Coperacaju, foram selecionadas para o programa a Cooperativa dos Produtores de Abacaxi de Itaberaba (Coopaita), Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc) e a Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (Coopes).
Abacaxi de Itaberaba também estará no Mercado Livre (Foto: Divulgação) |
As inscrições aconteceram após o lançamento de um edital, no primeiro semestre, e o resultado foi divulgado em junho. No momento, os cooperados estão em fase de mentoria, aprendendo sobre estrutura de mercado, as políticas da plataforma, e a como impulsionar engajamento.
Segundo a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), a estimativa é de que os produtos estejam disponíveis na plataforma a partir de agosto. O catálogo terá castanha torra, em pasta, mista, polpas de fruta, geleia de umbu, frutas desidratadas, maracujá-da-Caatinga, produtos a base de licuri entre outras milhares de opções.
O CORREIO procurou o Mercado Livre para saber mais detalhes do programa, mas a empresa ainda não se pronunciou.
Umbu será vendido in natura, em geleia e outras formas (Foto: Divulgação) |
Vendas
Segundo o diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) do governo do Estado, Wilson Dias, juntas as quatro cooperativas movimentam cerca de R$ 4 milhões por ano, e a expectativa é de crescimento de 50% nas vendas quando os produtos estiveram disponíveis na plataforma.
“Temos dois programas, o Bahia Produtiva e o Pró-Semiárido, que estão voltados para o desenvolvimento da agroindústria. Temos apoiado as cooperativas para que comercializem produtos de valor agregado, ou seja, não apenas o umbu, mas também a geleia do umbu, não apenas a castanha, mas também a pasta da castanha, e o Mercado Livre é de grande importância para o escoamento dessa produção”, contou.
Ele acredita que a parceria só foi possível por conta dos investimentos feitos nos últimos cinco anos. A CAR tem uma equipe de profissionais que assessoram as cooperativas, e que pouco antes da pandemia levou alguns do cooperados para apresentar os produtos em um evento na Itália. A expectativa do governo é de que a experiência das quatro associações selecionadas sirva de inspiração para outras cooperativas baianas.
“A seleção do Mercado Livre é muito exigente. Os produtos precisam ter qualidade, marca desenvolvida, boa embalagem, enfim, eles são muito rigorosos. Nós tivemos 40 cooperativas inscritas, e quatro foram selecionadas”, disse.
O Mercado Livre é um dos maiores marketplaces (plataforma com diferentes lojas de venda on-line) do país, com presença também em países da América Latina. A proposta do programa Empreender com Impacto+Biodiversidade é fortalecer negócios que contribuem para a preservação de biomas brasileiros, conectando produtores locais com consumidores de todo o Brasil e gerando renda para as comunidades.
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