A programação especial de Natal realizada pela Prefeitura de Salvador já teve shows de Thiago Arancam, Fat Family, Simone e Mateus Aleluia. Agora, é a vez de Carlinhos Brown encerrar a série de apresentações na Praça Municipal, às 20h, neste sábado (23).
Adepto do candomblé, o músico revela não ver conflito algum entre a sua religião e o cristianismo: “Nesse ponto, o Brasil está à frente de muitos países no mundo: aqui já é concreto que Deus se encontra em várias casas, várias crenças”.
Neste papo com o CORREIO, o cantor se lembra das festas de fim de ano em sua família e, especialmente, do cardápio preparado por sua mãe, Dona Madalena, conhecida por suas habilidades culinárias e muito elogiada pelo filho: “Minha mãe sempre foi muito forte na frigideira. Essa para mim ainda é a melhor comida do Natal. Uma frigideira de siri, siri catado, frango, atum ou de sardinha”.
E, claro, Brown fala também sobre o repertório do show, que terá a apresentação de uma de suas mais belas e emocionantes canções, Shalom, pouco conhecida, mas seguramente uma de suas melhores e que tem tudo a ver com o espírito natalino. “Vem, Maria, vem aqui/ Encher a vida de paz/ Sobre a família o pão/ Livra os presos da prisão”, diz a letra, uma das mais inspiradas da carreira de Brown. E, como é raro ouvir essa canção ao vivo, vale correr para a Praça Municipal neste sábado.
O cantor diz que lembrou da música quando foi chamado para participar de um show na programação do Movimento Você e a Paz, realizado por Divaldo Franco na última terça-feira, 19. Brown se revela admirador do líder espírita: “Quando pensei em Shalom, eu pensei nele”, reconhece Brown.
Você é um homem muito ligado ao candomblé e vai celebrar uma festa ligada ao cristianismo. Como vê isso? É um sinal do sincretismo presente na Bahia?
Sim, sou muito ligado ao candomblé. E o candomblé é um dos caminhos mais concretos para se adquirir respeito com a espiritualidade, afinal, o Cristianismo encontrou – e continua encontrando no candomblé – uma mola mestra de existência e resistência na Bahia e no Brasil como um todo. Em algum momento, foi de extrema positividade sincretizar, embora o sincretismo nasça na dor e na proibição do culto aos orixás, aos caboclos, pretos velhos. Caboclos esses que a cultura africana já encontra no Brasil. A força do sincretismo fez com que o Brasil avançasse no culto de umbanda a ser o movimento mais ecumênico das religiosidades no mundo. O sincretismo – leia-se miscigenação – e nesse ponto o Brasil está à frente de muitos países: aqui, já é concreto que Deus se encontra em várias casas, várias crenças, várias formas e manifestações. A cultura da Bahia une e respeita todas as religiões.
Você fala muito de sua mãe – Dona Madalena – e das lembranças de infância e juventude que tem dela. Na sua biografia lançada recentemente, fala das refeições que ela fazia para receber seus amigos. E no Natal, que lembranças tem dela e das festas em sua casa?
As festas da minha infância sempre foram regadas a farturas e uma estética muito original. Por exemplo, um líder social fazia a estrela Dalva para as ruas, todos nós enfeitávamos nossas casa com pedaços de licuri seco e aquela canoa que o licuri dava era pintada em tinta prata e colocavam-se bolinhas de vidro. Aquilo era a nossa árvore: uma coisa linda! E o melhor de tudo era que todas as casas, para o Natal, cobriam o cimento vermelho com areia e pitanga, esse era o nosso enfeite. E com comidas deliciosas, né? Minha mãe sempre foi muito forte na frigideira. Essa para mim e ainda é a melhor comida do Natal. Uma frigideira de siri, siri catado, frango, atum ou de sardinha…. E claro, aqueles bolos deliciosos, muito simples, mas saborosos, o ‘bolo de maizena’, como a gente chama. A única lembrança que eu não gosto do Natal foi que aos 11 anos eu descobri que não era criança e não ganhava mais brinquedo (risos). Mas foi bom que me fez uma eterna criança, eu brinco até hoje, eu entendi que aquele foi um momento que meus pais viram que eu precisava crescer.
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