Edson Oliveira deixou a família, no Norte de Minas, há oito anos, para buscar vida melhor em Belo Horizonte. A falta de escolaridade e de experiência profissional empurrou o trabalhador para debaixo das marquises, justamente onde ele conheceu o ofício de carroceiro.
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“Estava morando nas ruas e catando recicláveis para sobreviver quando conheci os carroceiros, e eles me ensinaram o ofício. Com esse trabalho, consegui sair das ruas, alugar casa e ter comida todos os dias. Ser carroceiro melhorou minha vida”, disse Edson, que tem 60 anos e recuperou sua dignidade após comprar um cavalo.
No entanto, na segunda-feira (27), Edson e outros carroceiros de BH receberam uma notícia péssima para eles: a partir de janeiro de 2026, o tráfego desses veículos passa a ser proibido na capital, e as carroças precisam ser substituídos por mecanismos de tração motorizada. Isso porque foi sancionada pelo prefeito Fuad Noman (PSD) a lei que diminui de dez para cinco anos o prazo para acabar com a prática.
Não poder mais ser carroceiro em BH aumenta em Edson o medo do futuro, que o assombra há oito meses, desde que teve o cavalo furtado e perdeu a renda de R$ 2.000 por mês. Sem poder adquirir outro animal, ele mora em dois cômodos de um posto de combustíveis abandonado, na região Noroeste, e sobrevive com a catação de recicláveis e sucatas.
“Para sobreviver, pego tudo o que pode ser consertado, como máquinas de lavar, ventiladores e tanquinhos… Depois, revendo. E vou levando”, disse.
Outro segmento
O carpinteiro Carlos Alberto de Andrade, de 59 anos, que aprendeu com o pai a fazer carroças, também não vislumbra um futuro promissor com o fim da profissão de carroceiro em Belo Horizonte. Desde 1964, a família dele vive de fazer e revender os veículos.
“A maioria dos carroceiros não tem estudo e não sabe fazer outra coisa. É muito difícil mudar de área assim”, pontuou o carpinteiro.
Reinserção no mercado é discutida
Auxiliar os carroceiros na reinserção no mercado de trabalho é um dos objetivos da Comissão Especial criada pela Prefeitura de Belo Horizonte para elaborar um plano de substituição gradativa das carroças. A iniciativa também busca apresentar propostas para proteger os animais usados nas carroças após a extinção do serviço. “Nós não queremos que essas pessoas fiquem desprotegidas. E, por outro lado, nós temos que ter também uma política de amparo aos animais”, disse o prefeito Fuad Noman (PSD).
Autor da lei, o vereador Wanderley Porto (Patriota) disse que a comissão envolve todas as secretarias: “Vão se debruçar em (viabilizar) alternativas de ocupação e geração de renda para os carroceiros”, reforçou em entrevista à FM O TEMPO 91,7na terça (28).
Outra defensora dos direitos do animais, a vereadora Janaina Cardoso (União Brasil), coautora da lei, comemorou a mudança. “Queremos dar para eles (carroceiros) mais dignidade, (…) novas oportunidades”, garantiu.
(Com Alice Brito)
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