Em novembro de 2023, acendeu-se um alerta no setor financeiro da Magazine Luiza após uma denúncia anônima feita em um canal de comunicação interno indicar possíveis desarranjos financeiros em processos contábeis. A gigante varejista, que já havia testemunhado o escândalo financeiro de outra grande empresa, as Americanas, decidiu contratar uma consultoria para analisar detalhadamente suas finanças. No desfecho, a Magalu declarou que não foram encontradas evidências de fraudes, mas ficou a lição: a importância de sólidos mecanismos de governança em companhias para blindá-las de possíveis episódios de corrupção, que podem limar suas imagens e afastar potenciais investidores. Por isso, cada vez mais, gestores têm direcionado investimentos para práticas de governança corporativa. Esse movimento reflete uma crescente consciência de que organizações que adotam estratégias fundamentadas nos pilares do compliance conseguem alcançar resultados mais positivos. A busca por profissionais que se especializam na área de compliance e a relevância de suas funções colocam essa carreira como uma das mais promissoras na área do ESG, conforme levantamento feito pelo Guia Salarial Robert Half 2024, que mapeia o cenário das oportunidades de trabalho. “As atividades desse profissional abrangem três grandes pilares: prevenção, detectação e resposta. A prevenção é a elaboração de normativos, ações de comunicação e treinamento que orientem o comportamento ético dentro da organização e análises prévias de integridade dos parceiros de negócios; a detecção é a gestão do canal de denúncias, investigações corporativas e auditoria de conformidade; já a resposta são os procedimentos que garantam a interrupção imediata de irregularidades ou infrações detectadas, bem como a remediação rápida dos danos causados”, ilustra Raphael Machado, profissional de Gestão de Riscos e Compliance. De acordo com Jessica Costa, especialista em Governança, Riscos e Compliance, o compliance vai além do enfrentamento à corrupção, condutas ilícitas ou padrões éticos. “É papel do profissional de compliance também avaliar os riscos aos quais a empresa está sujeita, monitorar os controles internos, fomentar a cultura da integridade de forma que todos os integrantes entendam a importância de tal prática“, completa. Apesar da impressão de ser uma área relativamente nova no mercado, o compliance não é uma novidade, tendo surgido no Brasil em 1998 com a Lei 9.613 – Lei de Prevenção à Lavagem de Dinheiro. Nesse contexto, as instituições financeiras foram compelidas a estabelecer setores com a responsabilidade de prevenir a lavagem de dinheiro. Nos últimos anos, no entanto, é observado uma expansão contínua dessa área. O mercado costuma prioritizar profissionais do Direito, Administração e Contabilidade, embora não exista uma formação acadêmica específica para ingressar na carreira de profissional em compliance. A própria Jessica, por exemplo, é formada em Secretariado Executivo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e trabalhava na área de facilities em uma multinacional francesa quando surgiu a oportunidade de fazer a transição de carreira. “Por ser uma área que exige discrição e confiança, a diretoria da empresa viu em mim um forte potencial para compor a equipe de compliance que na época estava passando por reestruturação. Me identifiquei muito com a área, percebendo a similaridade do perfil do profissional de compliance com a minha área de formação, e desde então tenho buscado cada vez mais conhecimento nesse ramo“, conta. Especialistas afirmam que profissionais de compliance têm um amplo campo de oportunidades nos próximos anos, à medida que as empresas aumentam a conscientização sobre a importância da governança corporativa. As oportunidades surgem na iniciativa privada, órgão público ou Terceiro Setor. “As práticas de governança corporativa, especialmente em empresas de pequeno e médio porte, ainda precisam amadurecer significativamente. Com as relações cada vez mais regulamentadas, maior ênfase na privacidade de dados, avanços tecnológicos, fortalecimento da abordagem ESG, além de uma fiscalização e escrutínio público mais intensos, as empresas se veem na necessidade de buscar profissionais capacitados para assessorá-las“, diz Raphael. “Costumo dizer que a confiança é o alicerce para um bom relacionamento entre o mercado e a empresa, bem como para a relação empregador e empregado. Portanto, onde houver pessoas, haverá oportunidades para aprimorar as práticas de integridade e compliance“, completa o profissional de Gestão de Riscos e Compliance. Profissões do futuro na área do ESG, de acordo com o Guia Salarial Robert Half: – Business Intelligence – Private Banking – Áreas regulatórias (Compliance/KYC/Data Protection) – Fusões & Aquisições (M&A)