No final de dezembro e janeiro é tradicionalmente a época de viajar em família. Mas, antes de pegar a estrada, fica a preocupação de deixar a casa “sozinha”. E esse medo não é infundado, segundo especialistas, já que o crime de furto – sem uso de violência ou grave ameaça – a residência voltou a crescer nos últimos dois anos em BH – depois de dois anos em queda durante a pandemia, quando as pessoas ficaram mais tempo em casa.
Em 2022, foram 5.861 ocorrências, 6,4% a mais do que em 2021. E neste ano, de janeiro a outubro (último mês com dados divulgados), foram 5.126 casos, aumento de 4,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp). A média atual é de 17 furtos por dia.
A Polícia Militar (PM) informou que tem acompanhado as ocorrências e planejado ações específicas de inteligência para coibir o crime. Para o doutor em sociologia e especialista em segurança pública Luís Flávio Sapori, os números mostram a retomada dos registros de violência do pré-pandemia. “Esse crime está relacionado a maior ou menor presença das pessoas em casa. Com a saída do morador, a oportunidade de furtos de residência aumenta”, diz.
E onde é comum ouvir relatos sobre a ação de criminosos, maior a chance de ocorrerem mais crimes. “Todos os estudos mostram que, se o criminoso foi bem-sucedido uma vez, a chance da vitimização repetida é muito alta, no mesmo prédio, casa ou região”, explica a pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG.
A casa da avó do estudante Davi de Souza, de 21 anos, no bairro Guarani, na região Norte de BH, foi invadida em novembro do ano passado, e vários objetos foram levados, causando um prejuízo de mais de R$ 2.000. Embora algumas pessoas estivessem no local na hora do furto, a família estava de luto pela morte do tio, que morava na residência e tinha falecido havia menos de um mês. “A gente acha que aproveitaram da morte do meu tio, que era a ‘pessoa forte’ da casa. Aproveitaram da fragilidade da família”, aponta.
Aviso às autoridades
Davi de Souza lembra que a família não registrou boletim de ocorrência após o furto porque a casa não tinha câmeras. “Ficamos sem pista nenhuma e sem provas. Então, achamos que não ia dar em nada”, comenta. “É essencial que as pessoas registrem o crime, para que, inclusive, seja possível criar estratégias de prevenção”, orienta a pesquisadora Ludmila Ribeiro.
Furto x roubo
Normalmente praticado às escondidas, furto é subtrair para si ou para outra pessoa um pertence alheio, sem uso de violência. A pena de reclusão é de um a quatro anos, mas a prisão preventiva não costuma ser decretada, só em casos de reincidência ou furto qualificado, quando a pena também é maior.
‘PM monitora suspeitos’
Entre as ações anunciadas pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) para conter os furtos, estão mapeamento, monitoramento e identificação dos autores, além do combate a receptadores de objetos de origem criminosa ou duvidosa. “Para tanto, nossa fonte primária de conhecimento são as denúncias e os registros de ocorrência. As informações obtidas alimentam os nossos bancos de dados, para que sejam desenvolvidas ações e operações”, declarou a corporação.
A corporação ressaltou que está à disposição da sociedade 24 horas por dia e que, caso o cidadão precise, deve acioná-la pelo 190.
A PM faz ainda operações rotineiras e em datas de maior movimentação do comércio, como na Black Friday e, agora, no Natal. Para esse fim de ano, 7.900 policiais estão mobilizados nas ruas em todo o Estado.