Todos os dias você lida com empresas de alcance global, verdadeiras titãs dos seus mercados. São gigantes do entretenimento – como Disney e Netflix –, da tecnologia – Google, Microsoft, Apple – ou do varejo – Amazon e Walmart.
Mas também podem ser multinacionais da alimentação, da geração de energia, da produção de veículos ou aeronaves e por aí vai. O que elas têm em comum? São empresas de atuação no Brasil, porém com sede em países do primeiro mundo, sobretudo os Estados Unidos.
Por serem estadunidenses, as ações dessas empresas são, obviamente, negociadas nas bolsas de valores daquele país, como NYSE e Nasdaq. Mas todo mundo que está iniciando no mundo dos investimentos pensa: não seria ‘massa’ comprar essas ações?
Desde setembro de 2020, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia que é ligada ao Ministério da Economia, autorizou que todos os investidores pudessem comprar um título que é chamado de BDR, e que dá acesso às empresas de fora do Brasil.
Ou seja: até mesmo o mais iniciante dos investidores brasileiros pode adquirir títulos ligados às maiores companhias do planeta sem ter que tirar o seu patrimônio do país. Os BDR podem ser adquiridos diretamente da B3, a bolsa de valores brasileira.
Neste capítulo, mais um da série do CORREIO voltada para investidores iniciantes, vamos entender o que é BDR e como eles são acessíveis ao público brasileiro. Além disso, vamos saber as vantagens e desvantagens dessa nova forma de investimento.
O que é BDR?
Essa é uma sigla em inglês para Brazilian Depositary Receipts (em tradução aproximada, seria ‘recibos brasileiros de depositários’). Sim, os BDR são recibos de compras de ações e não as ações em si. Não é o ativo em si, mas o direito a um ativo.
Como assim? Ao adquirir um BDR, você está adquirindo o recibo da compra de uma ação. E essa compra foi realizada fora do país através de um intermediário, uma instituição financeira. Ou seja, você está adquirindo no Brasil um direito a um ativo negociado fora do país.
Para ficar mais fácil: é como se, ao adquirir o BDR da Coca-Cola, por exemplo, você tivesse o direito de ir até a NYSE, que é a Bolsa de Nova York, e trocar esse recibo por uma ação da Coca-Cola que só é negociada lá.
Dá no mesmo
Apesar dessa diferença meramente técnica – mas que é importante de ser destacada –, o BDR funciona na prática como se fosse a ação em si. O seu título de BDR vai acompanhar a mesma valorização ou desvalorização das ações negociadas fora do país.
O tipo mais comum de BDR que é negociado na B3 é chamado de ‘não-patrocinado’. Isso quer dizer que não foram as próprias empresas – como Apple, Google, Amazon etc – que decidiram listar as suas ações na bolsa brasileira.
Ou seja, o não-patrocinado é justamente o BDR negociado na B3 por uma instituição financeira que serva como intermediária. Na prática, é como se esse intermediário tivesse ido à bolsa estrangeira, comprado um lote de ações e colocado para revenda por aqui.
O que mudou?
Os BDR não são novidade. Porém, até setembro de 2020, apenas os investidores brasileiros caracterizados pela B3 e pela CVM como ‘qualificados’ podiam adquiri-los. Para fazer parte dessa categoria, a pessoa precisava ter no mínimo R$ 1 milhão de patrimônio investido.
Desde então, basta abrir o aplicativo ou site da sua corretora de investimentos favorita que terá uma aba apenas para BDR. Lá estão títulos de algumas das empresas mais famosas do planeta como Disney, Apple, Johnson & Johnson, Tesla e tantas outras.
Importante dizer ainda que o brasileiro sempre pôde adquirir uma ação vendida na Nasdaq ou na NYSE. Porém, é necessário abrir conta numa corretora de investimentos sediada nos EUA e fazer uma ‘remessa’, ou seja, uma transferência do seu dinheiro transformando-o de reais para dólares por meio de uma empresa de câmbio.
Como identificar uma BDR?
Assim como as ações brasileiras vendidas na B3, os BDR são identificados por uma sigla de quatro letras seguidas de um código. Por padrão, esse código é 34 ou 35.
Os BDR são negociados por meio do Home Broker da sua corretora favorita, como qualquer outro ativo da B3, e seguem as mesmas lógicas de compra e venda.
Então, por exemplo, o BDR do Facebook é negociado na B3 pela sigla FBOK34. Confira outras siglas de empresas famosas:
Coca-Cola: COCA34
Apple: AAPL34
Microsoft: MSFT34
Mercado Livre: MELI34
Tesla: TSLA34
Google: GOGL34
Amazon: AMZO34
Recebe dividendos?
Sim, como qualquer ação, o BDR paga dividendos ao seu proprietário dentro do período que é estipulado pela empresa. E você também pode lucrar vendendo seu BDR na B3, como qualquer outro ativo negociado nela.
Vantagens
1) Seu patrimônio em dólar
Apesar de você adquirir o BDR em reais e por meio da bolsa brasileira, o seu patrimônio estará lastreado em dólares. Isso quer dizer que seu investimento está sujeito às flutuações de duas variáveis importantes: o valor da própria empresa e o câmbio.
Ou seja, se a ação se valorizar e, ao mesmo tempo, o dólar aumentar em relação ao real, você estará aumentando duplamente o seu patrimônio. Porém, se tanto a ação perder valor como o dólar cair em relação ao real, você perderá duplamente.
2) Maior estabilidade
Por geralmente se tratar das maiores empresas do mundo, a tendência de uma valorização constante é enorme. Além disso, a economia de países como os EUA e a China são mais sólidas do que a do Brasil, e por isso oscilam menos e mantém ritmo de crescimento.
Além disso, por seu patrimônio estar em dólar, existe uma confiança maior na moeda, que é a mais negociada do planeta. Em momentos de crise global como a da pandemia, a tendência é que o dólar suba, pois todos os investidores do planeta migram para ele.
3) Mais simples
Por se tratar de títulos vendidos na B3, você evita uma série de burocracias que é típica de quem investe no exterior. A principal delas é seguir o Imposto de Renda do Brasil, seguindo as mesmas regras de quem investe em ações brasileiras.
Além disso, facilita poder adquirir os BDR através do mesmo aplicativo ou site da sua corretora favorita, sem precisar abrir conta numa corretora estrangeira e ter que operar em outro Home Broker.
4) Sem perdas no câmbio
Mas a principal vantagem, sem dúvidas, é evitar a perda de dinheiro que ocorre quando você envia dinheiro para o exterior. Entenda: para abrir conta numa corretora estrangeira, é preciso transferir dinheiro num processo de remessa.
Nesse processo, que ocorre por meio de uma instituição financeira, você acaba perdendo parte do dinheiro para o ‘spread cambial’, que é justamente uma valorização do câmbio a fim de remunerar a empresa que faz a remessa.
Desvantagens
1) Não é a ação em si
Como dito, o BDR é um recibo e não a ação em si. Você até pode adquirir a ação de fato caso assim deseje um dia. Porém, você terá que entrar em contato com a instituição financeira que emitiu o BDR no país e pedir para fazer essa troca para a ação de fato.
Porém, esse é um processo que varia de acordo com as instituições e é uma burocracia a mais, algo que não ocorre quando se compra a ação diretamente no exterior.
2) Taxa nos dividendos
Você sabe: não existe almoço grátis. No caso do BDR, quando você receber os dividendos, terá que deixar uma parte com a empresa que serviu de intermediária para a aquisição.
Geralmente, essa taxa é de 5% do valor. Ou seja, se seus dividendos provenientes do BDR forem de R$ 100, você só receberá R$ 95.
3) Menos opções
Naturalmente, ao possuir acesso direto ao pregão das bolsas estadunidenses, através de uma corretora estrangeira, você terá milhares de opções de ações negociadas, a ponto de poder diversificar bem a sua carteira.
No caso das BDR, as opções são limitadas às empresas mais conhecidas. Como dependem de um intermediário, geralmente a instituição que emite o BDR dá preferência a empresas que geram algum fetiche ou desejo dos investidores, como as gigantes da tecnologia.
4) Menor liquidez
Esse é um problema que ainda pode ser sanado de acordo com o crescimento do mercado de BDR no país. Porém, como ainda é algo relativamente recente, o volume de negociações nem se compara com o de ações brasileiras na B3 ou de ações estadunidenses nas bolsas de lá.
Portanto, o investidor pode ter maior dificuldade de liquidez – ou seja, de negociar o BDR e com isso obter dinheiro de fato.
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