Apesar de ocupar o quarto lugar no ranking brasileiro de produção de eucalipto, a Bahia ainda depende do que é produzido em outros estados. Isso porque a maior parte da produção local vai para as indústrias de papel e celulose e, assim, no mercado de construção civil e produção de móveis, por exemplo, 80% da madeira usada vem de Santa Catarina. De acordo com a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), a Bahia tem 618 mil hectares (ha) de florestas plantadas, sendo 95% (585,6 mil ha) relativo a áreas com eucalipto. O objetivo da associação é expandir o eucalipto na Bahia para o chamado uso múltiplo.
Para o diretor executivo da Abaf, Wilson Andrade, a Bahia ainda não produz (e processa) a madeira plantada suficientemente para atender à demanda do estado e muito disso se dá pela falta de conhecimento sobre o setor. “Trabalhamos, inclusive, para a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira para uso múltiplo, visando o atendimento da demanda por móveis, peças e partes de madeira na Bahia, além de geração de energia”, coloca.
O eucalipto é a principal árvore cultivada para fins comerciais na Bahia no setor de base florestal. A explicação está no tipo de clima e solo, além da alta produtividade para uso industrial. O setor utiliza florestas de replantio, em detrimento das florestas nativas, evitando o desmatamento e outras consequências negativas para o meio ambiente. Os usos podem ser múltiplos, mas, na Bahia, fica concentrado no ramo de papel e celulose. A explicação está num ciclo vicioso: os produtores não plantam para outros fins porque não há processadores de madeira, que não se estabelecem porque não há cultivo de eucalipto para outros fins no estado.
O uso múltiplo pode ser expandido para produtos de beleza, medicamentos, alimentos e roupas, além de segmentos de pisos laminados, serrados e compensados, siderurgia, carvão vegetal e energia. “Estamos numa crise energética no país, as contas estão cada vez mais caras por conta dos níveis dos reservatórios. Por que não usar cada vez mais a biomassa? O estado tem uma imensa oportunidade onde podemos crescer”, diz o diretor executivo da Abaf.
“Outro déficit é a madeira serrada, que também estamos precisando importar do sul do país. Isso nos preocupa e queremos tornar a Bahia auto suficiente para atender a demanda interna , gerando renda e emprego aqui, principalmente no interior, e fazer uma sobra para exportação, seja para o resto do país ou para o mercado internacional. Queremos trazer investidores, trazer serrarias para investir aqui. Temos produtividade e terras disponíveis”, acrescenta.
95% da área de floresta plantada na Bahia é de eucalipto (Foto: Divulgação/Abaf) |
O produtor rural Francisco Catalan, de 68 anos, é um dos que cultiva eucalipto na Bahia. Na propriedade perto do município de Alagoinhas, Francisco também faz outros plantios e cria animais, mas 80% do faturamento vem do eucalipto, plantado em uma área de cerca de 160 hectares. O negócio é uma parceria com a Bracell que vem desde 2006. A empresa paga uma taxa mensal e fica responsável pelo processamento e uso do que é produzido.
“O eucalipto te proporciona isso. Você pode ter uma atividade própria e a floresta de eucalipto que representa uma renda garantida, não precisa se preocupar com mercado e riscos, por exemplo. Isso ajuda muito o pequeno e médio produtor, por exemplo. E a Bahia tem condições muito favoráveis para o plantio dessa árvore, principalmente no Nordeste e no Sul do estado”, destaca o produtor.
Bahia Florestal 202
O relatório bienal Bahia Florestal 2021, divulgado pela Abaf em setembro, mostra que o Produto Interno Bruto florestal-industrial (de base florestal plantada) da Bahia alcançou R$ 14,32 bilhões em 2020. O valor representa a contribuição do setor na ordem de 5% no total do PIB estadual, que poderia ser ainda maior se o eucalipto baiano fosse mais utilizado que o pinus catarinense. A contribuição na arrecadação tributária do estado foi de 4%, equivalente a estimados R$ 4,14 bilhões em 2020.
Conforme o relatório, 521 empresas fazem parte da cadeia produtiva do setor florestal-madeireiro no estado. Cerca de 52% dessas empresas estão associadas com a produção de móveis de madeira, 32% com a indústria madeireira (serrarias e usina de tratamento de madeira) e 16% com a indústria de celulose, papel e papelão. Destacam-se ainda a produção de carvão vegetal e de biomassa (pellets e resíduos oriundos da atividade florestal), que suprem a indústria do agronegócio e de bioenergia no estado.
Na Bahia, o setor que está presente em quatro polos de produção – Sul e Extremo Sul, Sudoeste, Oeste e Litoral Norte – contribui para a desconcentração do desenvolvimento econômico do estado, levando ao interior mais empregos qualificados, renda, impostos e contribuições ambientais de elevada significância.
O secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE), Nelson Leal, destaca a importância da desconcentração de renda no estado a partir do setor de base florestal: “Temos uma concentração da região metropolitana, no portal do sertão e no litoral norte. No início da gestão, 87% do ICMS gerado no estado ficava nesses territórios, que representam somente 4,3% do tamanho da Bahia. O trabalho do setor florestal leva a industrialização para o interior e é isso que queremos apoiar aqui na Bahia”.
O economista, ex-governador do Espírito Santo e presidente da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), Paulo Hartung, ressalta que o mundo vive um cenário de urgência climática e que é preciso entender a tendência de sustentabilidade. “O consumidor quer saber de onde vem o produto, para onde vai após o uso. Essa tendência dialoga com o setor de árvores cultivadas”.
Hartung acrescenta que o cenário é de desafio, mas também de uma janela de oportunidades para a Bahia. “Da árvore, temos mais de 5 mil produtos. A Bahia, em clima, tem área, é sede de empresas importantíssimas do setor. É um estado que já tem um papel de muitos anos de liderança no setor de árvores plantadas e cultivadas e tem um potencial de crescimento enorme desse setor aqui no estado”, finaliza.
*Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.
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