Quando a pandemia explodiu no mundo e as unidades de saúde perceberam que precisariam de aparelhos respiradores capazes de garantir a sobrevida dos pacientes acometidos com a covid-19, o Brasil e , mais particularmente, a Bahia perceberam que precisariam estimular a formação de profissionais na área de engenharia clínica (EC).
A estimativa é que, na Bahia, exista cerca de cem profissionais para mais de mil instituições de saúde. De acordo com o coordenador da Especialização em Engenharia Clínica do Senai-Cimatec Antônio Jorge Duplat, a Bahia tem uma defasagem de profissionais nesta área, principalmente no interior do estado, onde faltam profissionais.
“No mercado nacional, a absorção desses profissionais tem sido cada vez maior, uma vez que temos poucos EC’s em relação a quantidade de instituições de saúde e de fabricantes de equipamentos médicos”, esclarece. Ele destacou que não há dados de quanto é essa defasagem de pessoal.
Engenheiro clínico do Hospital São Rafael (HSR) e diretor regional da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (Abeclin) Jorge Cardoso reforça que há mais de três décadas, existe a especialização para essa área da engenharia, mas nesse período, houve uma deformação acadêmica e a especialização passou a admitir profissionais com outras formações, além da engenharia, a exemplo de direito, enfermagem e fisioterapia.
“Há cinco anos, os cursos passaram a exigir a graduação em engenharia, mas antes desse período, outros profissionais fizeram a especialização. A regulamentação só veio quando a pandemia evidenciou a necessidade de uma formação consistente nessa área”, diz.
Para Cardoso há falta de profissionais com formação adequada no mercado. Além disso, o profissional com graduação em Engenharia Biomédica (EB) também pode atuar no mercado de Engenharia Clínica (EC) apesar da significativa diferença entre as titulações de graduação em EB e a especialização em EC.
“Nossa esperança é que a regulamentação seja aprovada o quanto antes pelo Congresso Nacional para que essas disparidades possam ser corrigidas”, completa. O próprio engenheiro diz que, como a profissão não é regulamentada, é impossível precisar quantos profissionais de engenharia atuam hoje na Bahia e no Brasil como EC.
Perfil
Antônio Jorge Duplat lembra da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC 509), da Anvisa, que preconiza a obrigatoriedade do responsável técnico pelas tecnologias de saúde. “A fiscalização tem crescido e as instituições de saúde tem procurado cada vez mais esse profissional”, garante.
A especialidade possibilita que os profissionais apliquem e desenvolvam os conhecimentos de engenharia e práticas gerenciais às tecnologias de saúde, para proporcionar melhoria nos cuidados dispensados ao paciente e a segurança deste.
O presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Ahseb) Mauro Adan defende a importância desse profissional bem formado para garantir um atendimento de excelência e, ao mesmo tempo, tornar as instituições competitivas e inovadoras. “A área de engenharia clínica dentro de uma instituição de saúde, hoje, é fundamental e estratégica porque impacta nos custos, tecnologia e processos. Uma instituição que pretende ter qualificação nacional e internacional, ter uma qualidade de atendimento de excelência, precisa contemplar essa área, a nível de planejamento e manutenção, sem esquecer o aspecto da inovação”, completa, destacando que a própria Ahseb realizou em 2019 um evento que tratou sobre as boas práticas nessa área.
O equipamento conhecido como Vida é o resultado da atuação da engenharia clínica e possui know how baiano (Foto: Divulgação) |
Duplat reforça que, ao profissional da área, caberá realizar a gestão de tecnologia em saúde focada nos equipamentos biomédicos e fornecer a infraestrutura que estes solicitam em todos os seus aspectos, atuando tanto na manutenção, especificação, confiabilidade, cumprimento de regras e legislações vigentes, durante toda a vida a útil do equipamento. “O engenheiro clínico atua, principalmente, em instituições de saúde de todo os portes, mas também em prestadores de serviços e fabricantes de equipamentos em suas assistências técnicas”, explica.
Vale salientar que a especialização especifica em engenharia clínica contempla aspectos técnicos de gestão quanto o funcionamento das diversas tecnologias, envolvendo equipamentos médicos de todos os portes. A formação leva, em média, de 18 a 24 meses.
Excelência baiana
Em maio, o Centro Universitário Senai Cimatec vai iniciar a primeira turma do curso de Especialização em Engenharia Clínica, único do Estado. O diferencial é a experiência prática associada às aulas teóricas. Os alunos vão conhecer de perto por exemplo, o respirador VIDA e todos os equipamentos biomédicos que compõem os laboratórios de saúde do Senai Cimatec.
Os candidatos podem se inscrever no curso até o dia 24/04, através do site www.poscimatec.com.br. A inscrição é gratuita.
Na Bahia, apenas o Senai Cimatec oferece formação e se tornou uma referência internacional em Engenharia Clínica, depois que a instituição foi selecionada pela Nasa para desenvolver, no Brasil, um novo modelo de ventilador pulmonar, batizado pela agência aeroespacial norte-americana de VITAL e, aqui no Brasil, de VIDA.
As iniciativas brasileiras foram selecionadas em uma chamada pública realizada pela Nasa. A escolha se deu entre 331 empresas de todo o mundo, sendo 30 brasileiras.
“O Senai e a Russer, fabricante, integram o grupo das 30 selecionadas e são as únicas brasileiras. A seleção permitiu a nacionalização do produto, além de parceria para realizar melhorias e adequação do ventilador às especificações nacionais”, finaliza Duplat .