É crucial ter conhecimento de suas habilidades inatas, paixões e talentos ao tomar decisões sobre a carreira. O processo de autoconhecimento desempenha um papel essencial para chegar a uma conclusão bem fundamentada sobre o que seguir. Mas, muitas vezes, ao longo da jornada, profissionais acabam se identificando com outras áreas de atuação. Alguns, por diversos motivos, continuam seguindo o mesmo caminho; outros, optam pela transição. Segundo uma pesquisa do instituto ADP Research, 80% dos brasileiros avaliados cogitam mudar de carreira. Essa taxa é uma das mais elevadas entre os 33 mil trabalhadores entrevistados em 17 países. Um outro levantamento, realizado pela plataforma Onlinecurrículo com 400 pessoas neste ano, revelou que profissionais experientes desejam mudar de carreira tanto quanto os jovens. Mais de 80% das pessoas acima de 40 anos já cogitaram uma transição. “Não é questão de idade, mas claro que um jovem que acaba de sair do ensino médio e sofre com a pressão de ter que escolher um curso de ensino superior corre o maior risco de entender que talvez a sua paixão seja uma outra área. Eles são novos demais para ter conhecimento de si mesmos”, avalia a psicóloga e analista de RH, Marta Silva. “Mas também é natural que esse autoconhecimento chegue com a maturidade profissional. A pessoa, por exemplo, pode ter trabalhado durante antes, experimentado todas as áreas de atuação da sua profissão para só depois cair na real de que aquilo não faz sentido para ela”, completa. O headhunter David Braga avalia que é necessário muito estudo e dedicação para identificar a vocação profissional. “Especialmente em um país como o nosso, onde aos 17 anos precisamos definir qual faculdade cursar, sem o menor repertório de vida ou conhecimento sobre as inúmeras possibilidades. Por isso, tem sido cada vez mais frequente, após anos de trabalho, profissionais optarem por redirecionarem suas carreiras para outros caminhos”. “Precisamos estar atentos se estamos realmente onde queremos estar, assim como precisamos saber qual impacto estamos gerando nas pessoas e na sociedade ao nosso redor. Nossa vocação precisa trazer leveza e felicidade para nós. Já que sabemos que a vida está cada vez mais curta, que possamos realmente empreender energia naquilo que nos faz bem”, aconselha. A psicóloga Jéssica Santos começou a vida acadêmica no curso de Física. Ela já sabia que a mecânica clássica e a termodinâmica não fariam muito sentido na sua vida profissional, mas arriscou mesmo assim pela ansiedade de estar logo em uma universidade. A mudança para a Psicologia, como já era de se esperar, veio em seguida, mas, agora, uma outra paixão a faz pensar em outros rumos profissionais. “A psicologia é deliciosa. É uma cachaça pra mim. É muito gostoso ver a transformação e o movimento das pessoas, inclusive, quando engajam no processo psicoterápico. Mas isso é algo que ocorre mais a longo prazo. E eu comecei a sentir o desejo de uma coisa mais a curto e médio prazo”, diz. “A partir daí eu fui tentar olhar o que poderia me atrair. E eu me peguei lembrando que, na pandemia, quando dividi apartamento com uma amiga que é drag queen, ela foi convidada a participar de um concurso”, continua Jéssica. O concurso foi virtual e a psicóloga foi convocada para ajudar a amiga. Juntas, elas desenvolveram, cenário, roteiro, conduziram as gravações e editaram todo o material. Aflorou ali a paixão e a vontade de migrar para o audiovisual, desejo que talvez já estivesse plantado, já que a psicóloga sempre foi dada às artes. “Não está sendo fácil, mudança de carreira nunca é fácil, é transição. É não deixar a psicologia ainda. Eu acho que é ir colocando um pouquinho do audiovisual até ver onde isso se sustenta, ao ponto de ir abrindo mão da psicologia aos poucos até concluir totalmente o processo”, completa Jéssica. O orientador de carreiras e jobhunter Guto Oliveira orienta que se o profissional não tem condições de largar tudo e começar do zero, a melhor opção é continuar no emprego atual e, aos poucos, ir se qualificando, até se sentir seguro o suficiente para migrar de área. “Tudo é um processo, as coisas vão se construindo aos poucos. Eu sei que às vezes é muito difícil estar em um lugar onde não nos identificamos, mas você pode utilizar essa insatisfação como ponte para chegar à ao seu objetivo, nesse caso, a qualificação necessária para a mudança”, comenta. Dicas para transicionar de carreira com mais suavidade, por Valeska Petek, mentora de carreiras Organize suas finanças – Ter uma reserva de emergência é essencial, cobrindo pelo menos seis meses de custos de vida. – A reserva proporciona segurança financeira durante as transições de carreira, permitindo ajustes enquanto a nova área/profissão se estabiliza. – Manter a reserva atualizada é crucial, considerando mudanças no estilo de vida. Defina um orçamento para investir em sua transição – Um plano de carreira abrange educação, experiência, soft skills e networking. – Investir em qualificação requer previsão de custos, incluindo recursos gratuitos e pagos. – Para empreendedores, elaborar um plano de negócios com estimativas de investimento é fundamental. Considere fontes alternativas de renda – Em transições, pode haver um recuo salarial temporário; alternativas incluem ensinar/mentorear ou explorar outras oportunidades de trabalho para ganhar experiência. Alinhe expectativas com familiares envolvidos – Discutir finanças em família é crucial durante as transições de carreira. – Alinhar expectativas sobre mudanças nos investimentos/gastos e entender o apoio do cônjuge são essenciais. Considere consultar um especialista – Mesmo com passos lógicos, a relação com o dinheiro tem aspectos emocionais. – Consultar um especialista é uma opção para superar desafios no planejamento financeiro, considerando especialmente a economia comportamental.