Enquanto os hospitais de Belo Horizonte estão lotados devido à epidemia de dengue que está assolando Minas Gerais e o Brasil, outro vírus está sobrecarregando o sistema de saúde em 2024. O número de internações por Covid-19 cresceu 72% na capital mineira em fevereiro, o que, segundo infectologistas ouvidos por O TEMPO, já era esperado após as grandes aglomerações de pessoas no Carnaval de BH. Além disso, os profissionais de saúde estão exaustos.
De acordo com dados divulgados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), nas quatro primeiras semanas epidemiológicas, que começaram em 31 de dezembro de 2023 e terminaram em 27 de janeiro, 50 pessoas foram internadas em decorrência do coronavírus, resultando em uma média de 12,5 internações por semana.
Já nas quatro semanas epidemiológicas seguintes (de 28 de janeiro a 24 de fevereiro), essa média saltou para 21,5 por semana, com um total de 86 internações quatro dias antes do fechamento da semana epidemiológica.
De acordo com o último boletim epidemiológico da PBH, os casos confirmados de Covid na cidade passaram de 873 em 15 de fevereiro para 1.021 na última quarta-feira (21). Isso representa um aumento de 16,9%. Até o momento, cinco pessoas morreram com a doença no município em 2024.
Bloquinhos contribuíram para o aumento
O Carnaval de BH teve a programação oficial da PBH iniciada no dia 27 de janeiro, último dia das primeiras quatro semanas epidemiológicas do ano. No primeiro dia da folia, mais de 20 blocos já estavam nas ruas de diversas regiões da capital mineira.
Segundo o infectologista Estevão Urbano, o aumento das internações por Covid já era esperado justamente devido às aglomerações dos foliões. “Muitas pessoas transmitiram, e muitas contraíram. Assim, começa um ciclo que não para por um bom tempo, inclusive afetando idosos e imunossuprimidos, que correm maior risco de casos graves”, destacou o especialista.
A cientista de dados Maxilene Faria, de 26 anos, foi uma das muitas pessoas que acabaram contraindo o vírus durante a festa popular. Natural do Sul de Minas, mas atualmente vivendo em BH, ela conta que os sintomas começaram já na terça-feira de Carnaval, quando apresentou febre alta, chegando a 39º C.
“Marquei consulta e, no sábado, saiu o diagnóstico positivo para Covid. Os sintomas persistiram por quatro dias e terminei o período de isolamento ontem (quarta-feira, 21), após cinco dias sem sintomas. Acredito ter contraído o vírus de amigos mesmo, durante os blocos. Digo isso porque outras pessoas do meu círculo também testaram positivo”, lembra a jovem.
Moradora de uma cidade da região metropolitana de BH, a professora Lidiane Sayuri Nishimoto, também de 26 anos, veio para a capital durante o Carnaval e voltou para casa na quinta-feira (15), quando começou a apresentar sintomas mais leves, como coriza.
“Ia visitar meu namorado, que tem parentes idosos, e achei melhor fazer o teste para ter certeza. Acabou dando positivo e até me assustei, pois realmente é um perigo você pegar esse Covid e não saber que está transmitindo. Com certeza peguei em bloquinho, pois não estava com nenhum sintoma antes do Carnaval. Sem falar que outras três pessoas que tiveram contato comigo também testaram positivo”, conta a professora.
Ainda conforme Urbano, mesmo que já seja possível constatar o aumento após a festa, é necessário aguardar para entender a dimensão e o impacto dessa proliferação do coronavírus. “Precisamos acompanhar essas implicações, especialmente nesta época em que também temos um momento crítico de muita procura por ambulatórios e até internações devido à dengue”, completou o infectologista.