Foi às 19h18, em 28/10/2018, que Bolsonaro recebeu do Tribunal Superior Eleitoral a certeza de que seria o próximo Presidente da República. Ali, depois de uma campanha odiosa, já havia atingido cerca de 55 milhões de votos e não poderia mais ser alcançado por Fernando Haddad. A realidade informa que todos esses votos foram digitados em urna eletrônica, o que possibilitou a corrida presidencial, na maior democracia da América Latina, ser encerrada menos de três horas depois do final da votação.
Como em 2018, Bolsonaro já havia sido escolhido pelo voto eletrônico em 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Aliás, o poder político de toda a família Bolsonaro, construído no esgoto da política carioca, sempre teve a urna eletrônica como validador final, inconteste. Agora, é a mesma urna, tão útil a essa oligarquia miliciana, o maior bode expiatório para se ampliar, artificialmente, a instabilidade política.
Em mais um prólogo do golpe, Bolsonaro terminou por dar um chute no que ainda restava de ruínas da nossa imagem no exterior. Chamou para um palácio da República vários diplomatas e conspirou contra a democracia, contando mentiras sobre o processo eleitoral. Ele ainda renovou ameaças de uso das forças armadas, caso saia derrotado das eleições. Quem foi ao encontro, e tinha a mínima noção do ridículo, de lá saiu horrorizado.
Bolsonaro repete o trumpismo, que de forma mambembe tentou dar um golpe na democracia lá de cima. Ele sabe o tamanho do estrago que causará se seguir os caminhos do republicano. A estratégia eleitoral de Trump imprimiu danos profundos à democracia dos EUA, oxigenou sua liderança na extrema-direita e ajudou a enfraquecer o governo eleito, que até hoje sofre desconfiança pelo resultado eleitoral. Bolsonaro segue à risca a mesma cartilha, e sabe que mesmo na derrota terá o que colher das urnas eletrônicas.
Diante da estratégia de deslegitimar a democracia, podemos esperar ataques mais intensos e violentos dele e dos fanáticos ao seu redor. Não duvido que tentarão instaurar a truculência generalizada, impedindo o bom curso do processo eleitoral. Como ficou mais do que provado pelo circo para inglês ver montado no Palácio da Alvorada, ele já perdeu completamente a vergonha, e agora tenta dar um último chute na nossa democracia.