Depois de 36 anos sob comando federal, o metrô de Belo Horizonte foi concedido à iniciativa privada em 23 de março de 2023, com a promessa de finalmente ser ampliado além dos 28,1 km de sua única linha. O Metrô BH, formado pelo Grupo Comporte Participações, tem o prazo até 2027 para construir a Linha 2, que ligará o Barreiro à região Oeste da cidade, e até 2029 para colocá-la em funcionamento.
Para isso, contará com R$ 3,2 bilhões de recursos públicos, já anunciados pelo governo federal. No entanto, no primeiro ano de privatização, não há indícios das obras em andamento para concretizar esse sonho de décadas da população da área com o maior número de bairros (72 dos 487) e maior extensão territorial (53,6 km² dos 332 km² de área total) da capital mineira.
Estima-se que cerca de 50 mil pessoas por dia serão beneficiadas pela Linha 2 e deixarão de depender exclusivamente do ônibus como meio de transporte coletivo. Valdirene Alves Brandão, confeiteira de 51 anos, que diariamente faz o trajeto do bairro Diamante, no Barreiro, ao Santa Efigênia, na região Leste de BH, onde trabalha, é uma das que aguardam ansiosamente pela conclusão do projeto.
Haja promessa. Desde a inauguração, em 1986, o metrô da capital foi alvo de várias “quase expansões”. Em 1998, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pelo sistema em Belo Horizonte, chegou a iniciar obras no Calafate, para estender a linha até o Barreiro, mas foram logo paralisadas. Atualmente, o que resta é um esqueleto da estrutura no local, de onde as obras deverão ser retomadas.
No entanto, entre as etapas necessárias, está a remoção de aproximadamente 250 famílias que residem em parte do trecho, o que ainda não foi iniciado. A concessionária afirmou que as obras da Linha 2 começarão no primeiro semestre de 2024 e que vários processos para sua implantação já estão em andamento, como elaboração de projetos e estudos em campo.
Apesar do prazo estabelecido em contrato, especialistas apontam a falta de avanço nas etapas necessárias para a obra e a falta de diálogo com a população. A urgência se torna maior diante de décadas de espera. “BH é uma metrópole entre as maiores do Brasil e que precisaria de um sistema de metrô robusto”, ressalta o arquiteto e mestre em planejamento urbano Roberto Andrés, professor da Escola de Arquitetura da UFMG.
Estrutura de BH é a segunda menor entre as capitais
Dentre as 12 capitais do Brasil com metrô em funcionamento, Belo Horizonte é a segunda com menor extensão em seu sistema (28,1 km), ficando à frente apenas de Teresina (PI), com 13,5 km. Os maiores metrôs do país estão em São Paulo (104,4 km), Natal (77,5 km) e Recife (71 km).
Para o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores, a demora na expansão do modal é reflexo da falta de vontade e visão política. Ele destaca que sistemas que começaram juntos na década de 1970, como o de São Paulo e Santiago (Chile), seguiram caminhos distintos – enquanto São Paulo possui cerca de 100 km de extensão, o chileno tem mais que o dobro. “Foi feita uma opção política por um desenvolvimento do transporte estruturante mais definido por lá”, avalia Flores.
O que diz a concessionária sobre as obras
Segundo o Metrô BH, em novembro de 2023, foi iniciada a revitalização da rede de alimentação elétrica dos trens e a substituição dos trilhos e dormentes da Linha 1. Em dezembro do mesmo ano, a modernização de estações como Eldorado, Cidade Industrial, Gameleira, Calafate, Carlos Prates, Lagoinha, Santa Efigênia e Vilarinho foi iniciada. Para meados de 2025, está prevista a reforma de outras nove estações da Linha 1 e, até 2026, a entrega da estação Novo Eldorado, que aumentará a Linha 1 em 1,6 km.
Promessa. Em abril de 2023, o presidente do Metrô BH, Guilherme Martins, afirmou que realizaria estudos para ampliar a Linha 2 até a região Central.
Sem resposta. Um ano após a concessão, a empresa não se manifestou.