César Romero
O cotidiano da criação
Muitas vezes, acabado um projeto, depois de um longo período com as mesmas saídas, surge uma encruzilhada estética.
Publicado em 29 de janeiro de 2024 às 05:00
Sem saber que caminho trilhar, o artista fica agônico, com sensação de esvaziamento. É sempre normal, depois do esforço intenso em cumprir o que se determinou e esgotou o tema. Então surgem opções: parar de trabalhar, mudar de profissão, esperar um tempo até que surjam os primeiros sinais de algo novo. Voltar ao mesmo motivo e dar-lhes novas versões, Inventariar se o “engasgo” foi na linha, na forma ou na cor.
Mudar radicalmente de tema é uma fuga fácil, cômoda e não acompanha o idioleto. E, por fim, a angústia é tanta que o artista, ao remover-se pelo avesso, encontra sua nova saída, que lhe custou muito emocionalmente. Toda vez que um artista esgota um projeto, ele está em perigo. Mas, no mundo, tudo passa e essa aflição também passará, basta investir no credo, na persistência, no experimentar sem medo e encarar a dificuldade.
O trabalho de Mondrian Crédito: divulgação
Mondrian, um mestre em inventiva, levou a arte abstrata às ultimas consequências, através de uma simplificação tanto na composição, como no colorido. No fim dos anos 30, o artista achou que tinha esgotado sua proposta principal. Então, se mudou em 1940 da Europa para Nova York, nos Estados Unidos. Começou a desenvolver uma nova técnica, usando pedaços de fita de papel para criar pequenos retângulos coloridos, deixando de lado as linhas negras para unir as áreas com cores vivas.
Inspirado pela cidade, pelo jazz, luzes, sons, buzinas, as cores e formas se multiplicaram. E um ano antes de morrer em 1943 pintou Broadway Boogie – Woogie, óleo sobre tela, considerado por muitos a sua obra prima e o ponto culminante do seu sentido estético. Nesta obra, Mondrian se libertou completamente das regras que ele mesmo se impôs.
No cotidiano da vida do artista, os erros e dúvidas são constantes. É normal. Somos todos independentes de rótulos, pessoas criativas, mas nem sempre esta capacidade é exercida e quando é, mesmo que tardiamente, podem produzir artistas de qualidade. Não é o tempo do começo, nem o período de produção, mas sim o que foi produzido no período da atividade, Tomie Ohtake começou a pintar aos 39 anos, Volpi fez sua primeira individual com 48 anos.
Liberdade é a essência máxima do artista, não se pode concebê-lo aprisionado à moda, que passa e assim o artista também. Aprisionado a marchands, o seu próprio trabalho que deu certo no mercado. Autonomia é a capacidade de automanutenção, psicológica e financeira, ajuda muito na carreira e nas escolhas. A dúvida é um sentimento constante na vida de um criador.