Enquanto continua a indefinição se vai ter ou não Carnaval 2022 em Salvador (uma parte da população querendo outra não) o Baú do Marrom lembrou de um filme realizado em 1972 (há 49 anos) chamado Quando o Carnaval Chegar. O filme mostra um empresário, interpretado pelo saudoso Hugo Carvana, de um grupo de cantores que não faz sucesso. Eles são interpretados por Chico Buarque, Nara Leão e Maria Bethânia. Os três vivem numa pindaíba até que surge um contrato para que façam um show em homenagem a um rei que chegará para curtir o Carnaval na cidade.
O que seria uma oportunidade se transforma numa série de brigas internas, romances, enfim uma atmosfera que termina prejudicando a galera. Mas se não deu para se apresentar para o rei eles foram sobreviver fazendo shows mambembes. Em se tratando de Carnaval diria que o filme é um pouco melancólico. Mas a trilha sonora é muito boa. Além do que, ter Chico, Nara e Bethânia juntos, cantando e atuando já valeu a pena.
A direção é do cineasta Cacá Diegues, (eleito imortal da Academia Brasileira de Letras em 2019). Na época ele era casado com Nara. Mas o elenco tem ainda os atores Jose Lewgoy que já nos deixou o baiano Antônio Pitanga e Vera Manhães pais dos atores Camila e Rocco Pitanga; Elke Maravilha, Wilson Grey (também já se foram) e Ana Maria Magalhães que ganhou o prêmio Associação dos Críticos de Arte de São Paulo APCA 1972 como Revelação do ano.
Músicas como Baioque (uma mistura de baião com roque) e a que dá o nome ao titulo, Quando o Carnaval chegar, se destacam e servem para mostrar três artistas conhecidos pela timidez num momento descontraído.
“Quem me vê sempre parado, distante
Garante que eu não sei sambar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar
Eu tô só vendo, sabendo, sentindo, escutando
E não posso falar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar”
Chico Buarque, Maria Bethânia, Nara Leão e Hugo Carvana (Divulgação) |
Recentemente Daniela Mercury gravou e fez um vídeo cantando com Gal Costa uma música que tem o mesmo nome do filme: Quando o Carnaval chegar, mas com outra conotação.
Se Nara Leão que infelizmente nos deixou muito cedo e Chico Buarque nunca demonstraram ser carnavalesco, pelo menos Maria Bethânia manteve os laços com a folia. Principalmente no Rio de Janeiro com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. No carnaval de1994 a Mangueira desfilou com um enredo em homenagem aos Doces Bárbaros, reunindo Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Apesar da música “Atrás da Verde Rosa só não vai quem já morreu” ter feito enorme sucesso a Escola não obteve uma boa classificação. Mas o enredo gerou um documentário: Doces Bárbaros na Mangueira, dirigido por Roberto de Oliveira mostrando os baianos juntos, no palco, depois de 18 anos da turnê do grupo Doces Bárbaros.
Maria Bethânia no desfile da Escola de Samba Mangueira (Foto: Divulgação) |
Mas a vitória veio em 2016 quando a Mangueira ganhou pela 18ª vez o desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro com o enredo A Menina dos Olhos de Oyá, dedicado a Maria Bethânia comemorando seus 50 anos de carreira. Um desfile que levantou o Sambódromo, e os críticos classificaram a apresentação “como um desfile de luxo e sofisticação”.
Caso não aconteça mesmo o Carnaval de Rua em Salvador, provavelmente devem acontecer festas privadas, pelos menos podemos nos lembrar de Maria Bethânia alegre e solta na avenida durante o desfile ou depois comemorando com amigos a vitória de sua Escola de coração.
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