Toda aprendizagem é uma modificação de algum conhecimento anterior.
Assim foi ou tem sido para Bruna Rocha Costa, conhecida como Bruninha.
O mês de janeiro de 2022 marcou uma mudança definitiva na vida e na carreira da levantadora.
Foi nesse momento que Bruninha foi suspensa por três anos após ser flagrada no doping enquanto jogava pelo Fluminense.
O exame da ex-levantadora do Minas detectou na época três substâncias proibidas: oxandrolona, que auxilia no emagrecimento e facilita o ganho de massa muscular, o broncodilatador clenbuterol e metabólitos.
No entanto, para aqueles que pensam que foi o fim, estão enganados. Não para ela. Era o momento de um recomeço como ser humano e atleta.
Pode-se afirmar que Bruninha deu a volta por cima e está se preparando para retornar.
Faltando menos de um ano para o fim da suspensão, a levantadora começa a chamar a atenção de vários clubes para a temporada 2024/2025. Em fevereiro do próximo ano, no segundo turno da próxima Superliga, ela estará pronta para jogar.
Nessa conversa com o blog, ela relata que amadureceu, estudou as leis antidoping e conta como as mudanças na vida pessoal e profissional a impactaram.
Aos 29 anos, Bruninha afirma que tem treinado todos os dias desde janeiro de 2022.
“A mente só é forte quando o corpo é forte. Esse é meu lema”, diz ela.
Ela fala sobre o arrependimento e as consequências do seu erro:
“Todo erro tem sua consequência. A lei é fria e minha punição foi justa. Você só aprende verdadeiramente com um erro quando se arrepende sinceramente”.
Bruninha se dedicou intensamente estudando o doping, as leis, o código, a lista, a história. Por fim, escreveu um artigo científico sobre o tema e fez palestras a respeito.
Bruninha, o que mudou na sua vida pessoal e profissional desde fevereiro de 2022?
Tudo mudou completamente. Hoje sou outra pessoa. Passei por momentos muito difíceis e obscuros, mas é nas maiores crises que descobrimos nossa verdadeira força. E eu não sabia que era tão forte e resiliente. Cresci muito como ser humano. Aprendi a enxergar o mundo e as pessoas de outra maneira. Consegui controlar minhas emoções e fazer o que precisa ser feito. Todo erro precisa nos ensinar algo. Eu aprendi e evolui muito.
Como foi especificamente essa mudança?
No aspecto profissional, busquei acumular o máximo de conhecimento possível. Estudei, me formei, fiz uma pós-graduação e realizei vários cursos. Atualmente, junto com minha esposa Flávia, temos uma empresa consolidada que oferece treinamento físico online, com mais de 110 alunos. Dedico grande parte do meu tempo e energia nesse projeto. Também tenho alguns alunos presenciais aqui no Rio de Janeiro e a prescrição de treinos é a minha segunda paixão.
E quanto ao vôlei?
Quando tudo aconteceu, prometi a mim mesma que não voltaria a jogar vôlei, porém essa é minha paixão e obstinação. Fico muito feliz por estar nessa posição atual.
Como tem sido a sua rotina desde então? Está bem fisicamente?
Não deixei de treinar nenhum dia desde 21 de janeiro de 2022. Acredito que nunca estive tão bem fisicamente. A mente só é forte quando o corpo é forte. Esse é meu lema.
E como você conciliou o trabalho e os treinos?
Foi complicado conciliar tudo. Precisava trabalhar durante o expediente comercial, 8 horas por dia, e ainda treinar por mais 2 horas para manter a forma. Mas agora tudo está ajustado. Este ano, retomei os treinos com bola de forma efetiva e iniciei minha preparação para retornar tecnicamente no melhor nível possível.
Como você enxerga a situação do doping? Achou justa a punição?
Todo erro tem sua consequência. A lei é inflexível e minha punição foi justa de acordo com ela.
Você se arrepende do que fez?
Com certeza. A verdadeira aprendizagem vem quando nos arrependemos sinceramente do erro. Atualmente estou tranquila e certa de que enfrentei tudo da melhor maneira possível.
E qual foi a posição do Fluminense?
O Fluminense disponibilizou todo o departamento jurídico do clube. O próprio presidente, Mário, cuidou do meu caso. Eles fizeram o máximo que puderam. O Fluminense é, de fato, um clube diferenciado e humano. Tenho certeza de que recebi todo o apoio necessário deles. Sou muito grata por tudo que fizeram por mim naquele momento.
O que fica de lição?
Como forma de tentar demonstrar isso e reparar meu erro, estudei o doping, as leis, o código, a lista, a história; escrevi um artigo científico sobre o tema (meu TCC) e dei algumas palestras e lives (quando convidada) reforçando que o doping é errado em qualquer circunstância.
Bruninha, quem esteve ao seu lado durante esse período? Alguma surpresa? Frustração?
Houve diversas surpresas e algumas frustrações. Sempre existem aquelas pessoas que se afastam, e eu prefiro deixá-las ir. As frustrações, na maioria das vezes, são nossas próprias expectativas não cumpridas. Me aproximei de pessoas muito especiais no Rio de Janeiro, amigos que estiveram ao meu lado nos momentos mais sombrios. Lays, Maira e Vívian não foram surpresas, somos amigas de longa data desde os tempos de juvenil, mas é preciso destacar como cuidaram de mim, me apoiaram e me acolheram sem julgamentos.
Pode ser mais direta?
Sem minha família – meu pai, minha irmã e minha mãe – com certeza eu não teria suportado. Flá, minha esposa, foi quem segurou a barra ao meu lado nos dias mais difíceis. Eles me apoiaram em todas as etapas. Foram a minha base e o motivo de estar aqui hoje. Também tenho amigos excepcionais. A família que escolhi. Seria injusto citar nomes, mas eles sabem quem são. Nunca conseguirei retribuir todo o apoio que me deram.
E suas companheiras de quadra?
Recebi muitas mensagens de carinho de fãs e atletas nesse período. Isso me manteve forte, firme e tranquila.
O que aprendeu desse episódio como ser humano e atleta?
Podem questionar minha carreira, minha qualidade como jogadora, mas jamais poderão duvidar do meu caráter. É assim que tomo minhas decisões e baseio minha relação com as pessoas na confiança. Aprendi a realmente enxergar as pessoas, a não julgar e a compreender cada realidade. Acima de tudo, aprendi a ser humilde sempre, em todas as situações.