Bruno Araujo. Foto: Reprodução
Nunca se falou tanto em democracia quanto nos últimos anos. Seja pelos ataques incessantes a ela, o falso desejo de defendê-la e amparar-se na fragilidade da sua constituição para afrontá-la ou mesmo o real interesse em preservá-la. A democracia, entretanto, não é algo simples de se produzir, como uma muda de feijão num copo de plástico. Larry Diamond, cientista político, apresentou a contrariedade interna desse sistema curioso, complexo e belo.
Em uma democracia, é necessário conflito, mas não a ponto de polarizar. O poder não deve ser concentrado, visto a pluralidade da sociedade. Contudo, não dever ser “atado” a interesses de grupos representativos de uma falsa pluralidade. O poder político deve ser legitimado pelo povo, mas a legitimação só vem pelos resultados entregues. Um ecossistema tão frágil é terreno fértil para aqueles que anseiam apenas o poder.
Subverter a democracia é uma tarefa que nasce, em geral, de medidas graduais, discursos polarizadores e desconstrução das instituições democráticas ou cooptação delas, bem como, da criação de fanáticos dispostos a defender um regime desnivelado e que deslegitima seus opositores. A operação “Tempus Veritatis”, ou “Hora das Verdades” realizada pela Polícia Federal indica, a partir de uma longa investigação, a anatomia do que seria uma tentativa de golpe construída paulatinamente até alcançar o atrapalhado ápice no dia 8 de janeiro de 2024.
O documento que autorizou a ação policial trouxe relatos de causar arrepios à memória do aristocrata grego Clístenes, considerado o “pai da democracia”. Da transcrição de uma gravação em que o General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), em que defende uma “virada de mesa” à minuta de golpe revisada a pedido do presidente da República, Jair Bolsonaro; a intenção de prender o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes; a cooptação de forças especiais do Exército, dentre outros episódios citados, e que culminaram com a tentativa de tomada dos Três Poderes da República.
O passado daqueles que subiram a rampa sinalizavam suas tendências autoritárias até em livros de cabeceira. Parte da elite política legitimada pela própria democracia, no entanto, “normalizou” por enxergar personagens do baixo clero da política como instrumentos para vencer adversários, sem se importarem com as casualidades que uma guerra pelo poder poderia gerar. Ao minimizar os riscos, colocam o regime democrático em xeque.
A hora da verdade, contudo, parece ter chegado. E ao contrário das vovozinhas, tias e tios do zap, os mentores do ataque à democracia brasileira parecem prestes a serem chamados a responsabilidade, seja quem for. Em um país dito democrático, não deve haver lados político-partidários quando está em risco o pilar que protege justamente a liberdade de existir lados.