O jornalista Dinarte Assunção agora passa a escrever no AGORA RN – Foto: Verônica Macedo / CMN
A última vez que aconteceu tão vividamente foi em janeiro de 2019. A sombra que eu percebia crescer de novo, e tentava esconder dentro de mim, assumiu o controle. Eu estava chegando em casa após um dia normal em que eu fiz tudo que um cidadão comum faz. Levanta, toma banho, trabalha, encontra pessoas, volta para casa. Mas naquele dia, a névoa da tristeza assumiu de vez o controle e uma irresistível vontade de me atirar do décimo segundo andar tombou sobre mim.
Essa experiência não é única, nem isolada. Muitos de nós, que enfrentamos esses momentos de desespero intenso, damos sinais que, muitas vezes, são imperceptíveis para quem está de fora. Estes podem incluir mudanças no comportamento, como retraimento social, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, alterações no apetite ou no sono, e comentários sobre morte ou desesperança. Para muitos, como eu, esses sinais são um pedido de ajuda silencioso, uma tentativa de comunicação da dor que é difícil de expressar em palavras.
O que passa na mente e no espírito de alguém antes de uma tentativa de suicídio é frequentemente uma dor intensa provocada por um vazio inexplicável. É uma sensação de estar completamente sozinho, mesmo cercado por pessoas. É um sentimento de estar preso em um poço sem fundo de desesperança, onde a ideia de fim parece ser a única saída.
É crucial que abordemos este tema com a máxima seriedade e sensibilidade, especialmente diante da alarmante notícia que abordei nesta semana no Blog do Dina, segundo a qual disparou o número de suicídios entre crianças e adolescentes.
A compreensão e o apoio podem fazer uma diferença imensa. Pessoas ao redor de alguém que está sofrendo podem não ser capazes de “consertar” a situação, mas a presença, a escuta e a empatia podem ser um farol de esperança no meio da névoa.
Para quem está passando por essa névoa, é importante saber que há ajuda disponível. Buscar apoio de profissionais de saúde mental, confiar em amigos ou familiares, ou até mesmo ligar para uma linha de apoio pode ser o primeiro passo para sair dessa escuridão. A dor pode ser intensa e o caminho para a recuperação pode ser longo, mas há esperança e possibilidade de cura.
Este relato é um lembrete de que o suicídio não é uma escolha feita em um momento de clareza, mas um ato desesperado de alguém que está sofrendo profundamente. Abrir o diálogo sobre saúde mental, reconhecendo os sinais e oferecendo apoio, é fundamental. Precisamos criar um ambiente onde pedir ajuda não é um tabu, mas um ato de coragem e um passo para a cura. Naquela noite de janeiro foi isso que me salvou: pedir ajuda.
*Dinarte Assunção é jornalista.