“O cansaço acaba vencendo o calor”. É assim, tendo a exaustão como aliada, que o catador de recicláveis Wagner Lúcio Campos, de 45 anos, consegue driblar as altas temperaturas da noite e descansar o corpo em uma moradia apertada feita de pedaços de lona, madeira e cobertores velhos.
O catador divide o espaço que fica debaixo do viaduto Angola, no bairro Lagoinha, na região Noroeste de Belo Horizonte, há dois anos, com a companheira, a também catadora de recicláveis, Flávia Cristina, de 47 anos. Do lado de fora da moradia, ficam em cima de um pedaço de pano seis cachorrinhos que o casal cria.
Após perder o emprego e não ter condições de pagar o aluguel de um barracão no aglomerado Pedreira Prado Lopes, morar na rua foi a única solução para Lúcio e Flávia, que tentam como podem driblar as dificuldades diárias.
Na tentativa de deixar o barraco arejado, Lúcio construiu uma janela com pallets e o resto de um violão. No entanto, a estratégia não surtiu muito efeito. Então, o catador tentou arborizar o espaço e plantou na frente da moradia uma diversidade de plantas, mudas que ele encontra jogadas no lixo ou ganha de quem passa pela localidade. As plantas são molhadas com a água que Lúcio pega com um balde em uma bica que fica ao lado do viaduto. A mesma água que o catador e a esposa usam para beber e tomar banho.
“O calor é muito dentro do barraco, mas graças a Deus trabalho o dia todo como catador, planto as mudas, porque acredito em um mundo com mais verde e com menos lixo. À noite o cansaço extremo me vence e consigo dormir algumas horas. Tentamos por meio da limpeza deixar onde moramos mais arejado, mas não está fácil, o calor castiga”, desabafou Lúcio, que não trabalhou nesta quarta-feira (15 de novembro) devido uma forte crise de desconforto estomacal.
“Infelizmente não dá para tomar água gelada e de qualidade. Os alimentos às vezes estragam com o calor. O corpo hora ou outra sofre. Mas com fé, isso a gente também consegue vencer”, diz ele.
Não tão longe dali, está o ex-marceneiro Rumenig Martins, de 40 anos. Ele mora, há oito meses, em uma barraca nas proximidades da rodoviária de Belo Horizonte, após se mudar de Tocantins para a capital mineira em busca de oportunidade.
Para fugir do calor intenso do interior da moradia improvisada, o ex-marceneiro caminha até a Praça da Estação e se refresca na fonte, que está repleta de outras pessoas que também vivem nas ruas da capital. Nas margens, Rumenig ainda aproveita para lavar a roupa.
“Está impossível ficar dentro da barraca à noite, então, fico caminhando por BH até o calor forte passar. Quando passa, vou para a minha barraca e tento dormir. Mas, não minto, quando tenho que enfrentar o calorão dentro da barraca, tomo cachaça, fico embriagado e apago”, contou o ex-marceneiro.